sábado, 5 de julho de 2014

Mais Copa

Até agora não entendi a conversa do Ministro da Justiça. Na abertura da Copa, Itaquerão lotado, a polícia descobre um cara próximo às autoridades em uma área de acesso proibido, com uniforme do GATE. Detalhe: o cara estava armado. Um atirador de elite avisa seus superiores sobre o intruso. Da sala de comando chega a informação de que não há nenhum policial do GATE naquela área. Desconfiam de algum terrorista disfarçado de policial. O atirador então pede autorização para abatê-lo. Abatê-lo! Isso mesmo! Resolvem esperar um pouco. Sacumé, né?, o ato poderia provocar pânico, criar um tumulto. De repente, na mesma sala de comando, repleta de policiais civis, militares e homens do Exército, alguém, olhando pelo monitor, o reconhece. Um policial. Um policial do GATE. Avisam o cara. Ele sai de lá.

Aí o Ministro da Justiça aparece pra dizer que o episódio foi normal e corriqueiro. Meu Deus! Se isso é normal e corriqueiro, não quero nem pensar no que possa ser anormal, segundo os seus critérios. Não me parece normal você se preparar para abater um homem de bem como se ele fosse um frango, e que está trabalhando exatamente para garantir a segurança das pessoas, não?

O cara faz do dente uma arma. Do céu ao inferno. De herói a vilão. Essas expressões cabem muito bem pra situação do moço, não? Precisava daquilo? Era um lance bobo! Ainda que por meios escusos ele tirasse o beque da jogada, não iria acontecer nada, absolutamente nada. Na comemoração, após o término do jogo, ele tava lá com cara de ameba, de Pernalonga depois de tomar uma rasteira. Viu? Eu vi. Ele sabia que tinha feito bobagem e que levaria um gancho. Ô, Suárez, depois daqueles dois golaços contra os ingleses você apronta uma dessas? Bye, bye, Brasil, ué! Quer o quê?

O Brasil inteiro pesa nas costas dos nossos esforçados meninos. Deu pra notar bem nitidamente isso no rosto sofrido de nossos heróis. Eu nunca vi coisa igual: uma seleção tão com cara de derrotada antes de uma decisão por pênaltis como a do Brasil no jogo contra o Chile. Thiago Silva, o nosso capitão, abaladíssimo. E o Júlio? Surpreendentemente ganhamos. Surpreendentemente porque, ao contrário do Brasil, o Chile estava confiante, consciente de que nunca jogou tanto como naquela tarde quente em BH. E em decisão por pênaltis, confiança é tudo.

A propósito, sinto por demais tudo que o Júlio César passou nesses quatro anos. Sinto porque seu sofrimento foi imerecido. O Brasil de Dunga foi uma grande seleção. Ganhou jogos memoráveis, ganhou torneios. Na Copa de 2010, no jogo contra a Holanda, fizemos um primeiro tempo fantástico. Jogamos mal o segundo, falhamos, perdemos a cabeça e o jogo. Mas peraí? Quando teremos a humildade de reconhecer que não dá pra ganhar todas as Copas? Aquele gol contra a Holanda não apaga a história de sucesso e vitórias do Júlio.

Quando você estiver lendo esta crônica com ares de bate-bola, o jogo contra a Colômbia já será passado. Oxalá, meu amigo, que nessas alturas do campeonato você esteja aí curtindo a Copa, emocionado com o esporte bretão, e tomando umas brejas pra comemorar a vitória do Brasil.

P.S.: jogamos bem e passamos com autoridade. Mas Neymar fora da Copa? Sei não...

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