É
como se para ele, continua, a despeito dos cabelos totalmente brancos e
inúmeras funilarias na lataria de seu velho fusca, o tempo não passasse. E não
importa o quanto a vida e as coisas se modifiquem, ou mesmo se compliquem. Ele
dirige seu fusquinha, e vai embora...
Confesso que saboreei cada palavra desse
registro feito pelo meu amigo de justiça. E o romantismo que aflui desse
corriqueiro fato do cotidiano me trouxe à mente o velho Assumpção.
Assumpção ‒‒ escreve-se assim mesmo,
com o “pê” antes da “cedilha” ‒‒ era um sujeito das antigas, como seu próprio nome
atesta. Nasceu no ano de 1922, na pequena cidade de Bananal. Embora com nome
pomposo, Assumpção logo passou a ser chamado de Sansão ‒‒ muito mais fácil e
simples; para os netos, que nas férias curtiam a casa dos avós e o seu pé de
araçá ‒‒
hoje raro de encontrar, e o aguardavam ansiosos para comer as balas e
chocolates e docinhos que ele trazia do bar, vô Sansa.
Pois é. Assumpção era dono de um boteco na
Marechal Arthur, a poucas quadras da Praça Santa Teresinha: o “Nosso Bar”. E o bar era a sua vida. E, talvez, a vida de
muitos.
Dizem os grandes cronistas e os boêmios de
plantão, que boteco bom é boteco ruim, simples, barato, largado. Nada de coisa
chique, bem arrumada, organizada, confortável. Ao contrário. Boteco bom tem que
ter copo americano, mesa de lata, gente vestindo camiseta sem manga e bermuda,
petiscos da terra e uma boa cachaça. Tá aí a descrição exata. Tá aí o “Nosso
Bar”. Ponto de encontro da nata da cachaça, da boemia taubateana, da jogatina
libertária.
Mas me lembrei do velho Sança porque ele
poderia mesmo, muito facilmente, protagonizar a bela cena descrita no início
dessa crônica, se Deus Nosso Senhor não o tivesse tirado do nosso convívio e o
levado, são e salvo, para o paraíso do céu, onde a vida, dizem, é eterna, onde
a grama é verdinha, verdinha, onde o branco das roupas torna tudo muito puro e
sublime, mas onde não tem cachaça, nem carne seca com macacheira, nem mulher,
nem boteco, nem jogatina, nem devassa... Paremos por aqui, amigo. Paremos.
O Assumpção tinha um fusquinha. Um montão
de vezes, muitos viram a cena ‒‒ ele serpenteando pelas ruelas dessa terra de Lobato, com
seu carrinho branco e seus cabelos cinza. Talvez ele não dirigisse com a mesma
calma, e certamente não inspiraria o Rogério a descrever aquela cena com
tamanho romantismo. Mas não seria pressa, ou um descompasso por causa dessa
vida urbana sem pé nem cabeça, disso eu tenho certeza.
Assumpção era o meu avô.
Às vezes sonho com ele na rua, alegrinho,
alegrinho, dando o fusquinha para eu correr atrás de mulher. Às vezes sonho com
ele dirigindo seu fusquinha, e indo embora...
P.S.: agradeço ao Rogério Machado por me
autorizar a colocar seu texto na crônica.
Será que era o meu pai, Sérgio, indo para o supermercado Shibata no seu fuscão bege, com inúmeras funilarias na lataria de seu velho carro????? Pode até ser, viu... aquele fuscão dele também já faz parte da família e ele não largará nunca! E ainda diz que o neto vai se orgulhar de andar no fuscão com ele, rumo aos campos de futebol de nossa cidade! rsss Bjs, Dri
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ExcluirSerá??? O Rogério tem a foto. Seria uma coincidência muito bacana!!!