quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

O propósito da vida

Para o Dalai-Lama, o propósito da vida é perseguir a felicidade. E a felicidade pode ser alcançada por meio de treinamento da mente. Perguntado se era feliz, ele respondeu: Sou. Decididamente ... sou.
Treinar a mente não significa apenas capacidade cognitiva, mas conhecimento e coração. Intelecto e sentimento. Por meio de uma certa disciplina interior, podemos sofrer uma transformação de nossa atitude, de todo o nosso modo de encarar e abordar a vida, diz.
Um primeiro caminho: identificar os fatores que nos trazem felicidade, bem como aqueles que nos trazem sofrimento. Depois desse estágio, tentar cultivar os que conduzem à felicidade e eliminar os que conduzem ao sofrimento.

sábado, 26 de janeiro de 2013

Janeirão das águas

Pelo vidro do banheiro vejo, enquanto tomo banho, a chuvarada que encharca todas as ruas e casas e carros dos Campos Elísios, esse bairrinho simples de Taubaté. Na Oswaldo Cruz, molhada e branca, o desfile de carrões é a própria cara da decepção ‒‒ mais um fim de semana de chuva e frio nas praias de Ubachuva, perdão, Ubatuba.
Agorinha há pouco li, com enorme tristeza, a notícia de que o Paraitinga, nas últimas horas, já tinha subido quatro metros, invadindo as casas ribeirinhas, e causando estrago e destruição aos poucos pertences daquela gente sofrida que mora às suas margens.
Caso não saiba, meu amigo, em 2010 o Paraitinga transbordou, coisa de quinze metros, inundando praticamente todo o município. Destruiu casas e casarões, deixou restaurantes, lojinhas, bancos e miudezas debaixo d’água, pôs abaixo a própria casa do Altíssimo ‒‒ a igreja de São Luiz de Tolosa, uma construção do século 19, que não resistiu ao aguaceiro e desmoronou solenemente, torre por torre, parede por parede, até sobrar um monte de entulho.
Lembro-me da foto de um jornal que mostrava a cidade submersa. Pouca coisa sobrou, somente as casas do alto do morro. O centrinho simpático, a Praça Oswaldo Cruz de tantas marchinhas e carnavais, os restos da igreja, literalmente debaixo d’água.
Naqueles dias, a cúpula do Governo deixou os frios gabinetes para desembarcar na cidade sitiada, com ares sisudos de extrema preocupação, com promessas de recuperação geral, com liberação de verbas em caráter emergencial, com cadastramento de comerciantes, com facilidades, financiamento, liberação de créditos e coisa e tal, e com a promessa de solução para o problema do transbordamento do Paraitinga.
No entanto, diante das novas notícias, vejo que após três anos, se alguma coisa foi feita, de nada serviu.  Uma chuvinha mequetrefe na cabeceira do Jacuí, em Cunha, que deságua no Paraitinga, e o riozão, como um candidato a genro, bota de novo seus pés enlameados e suas pretensões espúrias na casa dos futuros sogros, sem ser convidado.
Penso na sofisticação de um garfo. Dentes arrojados, leve e delicado. Até então, as pessoas cortavam o alimento com a faca e comiam com as mãos. E o saca-rolha?  Desde sua criação, o espiral metálico evoluiu, e novas formas foram criadas com mecânica mais adequada à operação de retirar a velha rolha. Que delicadeza e precisão. E o anticoncepcional? Uma revolução social. O surgimento de uma nova classe de mulheres. Os óculos. A cama. O edredom. O copo. A escova de dente ‒‒ fantástica!  E o fio dental? A cadeira. O chuveiro. O sabonete. A chave. A taça de vinho. O espremedor de laranjas. O secador. O chinelo. A porta. A agulha. O travesseiro. O cortador de unhas. O pente. O sapato. O abridor de latas. O canudinho.
Há tempos que se discute no Brasil a instalação de um trem-bala ligando São Paulo ao Rio de Janeiro. Trem-bala... Olha só que coisa fabulosa. Os chineses, outro dia, inauguraram a linha de trem-bala mais longa do mundo, ligando Pequim a Guangzhou, num total de 2.298 quilômetros. Uma viagem que durava vinte horas vai durar oito, graças à velocidade que ele atinge, de 300 km/h. Há trens-balas que passam debaixo de montanhas e até de rios e mares: o Eurotúnel, por exemplo, que avança pelo Canal da Mancha, ligando a França à Inglaterra, uma das sete maravilhas do mundo moderno.
Mas as criações humanas não param por aí. Aliás, longe disso. E a sofisticação, a técnica, a precisão são de arregalar os olhos. No mundo eletrônico, por exemplo, temos uma profusão de invenções e novas tecnologias, tudo para encantar e satisfazer as necessidades mais exigentes da raça. Pipocam smartphones, celulares, tablets, notebooks, ultrabooks, HDs, GPS, DVDs, home theaters, computadores, máquinas fotográficas digitais, geringonças eletrônicas de tudo quanto é tamanho e gênero, de todas as cores e para todas as idades.
E pensar que no início dos tempos a tecnologia mais avançada usava a pedra como matéria-prima para a confecção de objetos, utensílios e ferramentas. O homem, para proteger-se do frio, socorria-se de peles de animais e escondia-se em cavernas. E para se alimentar, cozinhava a carne em buracos abertos no solo. Depois apareceram os metais, o conhecimento da escrita, outra invenção extraordinária da humanidade.
O que dizer então dos veículos de transporte, carroças, carros de boi, bicicletas, triciclos, quadriciclos, motocicletas, carros, caminhões, ônibus, trens, bondes, metrôs, lanchas, barcos, navios, submarinos, helicópteros, aviões, foguetes?
E das ciências, então?  A filosofia. A sociologia. A antropologia. A geologia. A paleontologia. As ciências políticas. A história. A linguística. A pedagogia. A economia. A administração. A contabilidade. A geografia. O direito. O serviço social. A arqueologia. A psicologia. As letras. As artes plásticas. A moda. O jornalismo. O secretariado.  A astronomia. A física. A química. A engenharia. A arquitetura. A matemática. A biologia. A anatomia. A genética. A fisiologia. A agronomia. A medicina. A nutrição. A educação física.
Enorme e vasto o conhecimento humano. Com tudo isso, com tamanha abrangência e diversidade de saber, com essa reserva de conhecimento acumulada em séculos e séculos de existência, eu me pergunto: será que é difícil encontrar uma soluçãozinha digna para os problemas das enchentes e deslizamento de encostas que assolam o país durante o janeirão das águas? Não há uma viva alma nesse mundo, que ocupe um cargo de gestão ‒‒ um prefeito, um governador, um presidente ‒‒, capaz de se sensibilizar e resolver os problemas de uma grande parcela do povão?
Janeiro pode ser o mês das chuvas, mas não precisa ser o mês das tragédias, dos deslizamentos, das famílias retiradas de suas casas e transferidas para escolas e igrejas, das vidas ceifadas.
Desligo o chuveiro sacudo, por saber que falta dinheiro para ações preventivas nos rios e encostas, mas dos cofres públicos jorram cascalhos para a Copa, que vai encher de alegria a moçada.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Sábado (02)

Eis aí uma boa dica. Tudo bem que o livro é de 2005, mas se você ainda não leu Sábado, de Ian McEwan, não perca mais tempo.
De que se trata? A resenha do Jonas Lopes (link abaixo) vai te dar uma noção do livro com mais propriedade. Por enquanto, um aperitivo.
O livro conta os fatos ocorridos no dia 15 de fevereiro de 2003, na vida Henry Perowne, londrino, neurocirurgião, bem-sucedido, casado, pai de dois filhos.
Tudo indicava que ele teria um dia de sábado bastante agradável: jogar squash com um amigo no clube, comprar peixe para fazer à noite, visitar a mãe doente, reunir a família para um jantar de reconciliação entre a filha poeta Daisy e o avô, de personalidade complexa e também poeta, Grammaticus.
Londres, naquele dia, seria palco da maior manifestação popular já vista na cidade contra a invasão do Iraque. Da janela de seu quarto, pego por uma insônia durante a madrugada, Henry Perowne se depara com um avião, parcialmente em chamas, voando sentido Aeroporto Heathrow, fato que lhe traz à mente, instantaneamente, a visão das torres gêmeas sumindo em meio ao pó.
Um acidente trivial nas ruas de Londres, e o Sábado, que tinha tudo para ser agradável, torna-se uma prisão, uma prisão da qual você não vai querer se libertar.
Clique para ver a resenha do Jonas Lopes para o Digestivo Cultural.
Boa semana.



sábado, 19 de janeiro de 2013

Trechos de um concerto


Ela não se entende com a máquina fotográfica. Quer dar zoom, mas não sabe dar zoom. A máquina é velha, nem sabe se a máquina tem zoom. Depois de tanto mexer sem nada conseguir, resolve pedir ajuda. Olha pro meu lado. Vem falar comigo. Tenho vergonha de dizer que sou tão ignorante quanto ela naquele assunto. Quanta besteira. Vejo a máquina com medo. Seguro-a, mas sinto que tenho nas mãos um bicho estranho, que pode a qualquer momento me picar, me morder, sei lá. Fico examinando (apenas com os olhos), sem me mexer, com receio de apertar um botão desconhecido e pifar aquela geringonça. Lembro que do meu lado está uma jovenzinha dos seus quinze anos. Sem titubear olho pra ela, ela percebe e olha pra mim. Pronto, meus problemas acabaram (como se eles realmente fossem meus). Digo meio sem jeito: “é aqui mesmo que a gente dá o zoom, né?” Ela percebe minha total falta de traquejo. Arranca a máquina delicadamente das minhas mãos. Mexe com a destreza dos jovens. Segundos. Acerta o zoom. Devolve a máquina. A senhora, toda sorridente, agradece. Nem olha pro meu lado. Don’t Cry For Me Argentina se foi.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Rubem Braga


“A crônica brasileira está em festa”, estampou a Folha no último sábado: “Rubem Braga faria 100 anos hoje”. O velho Braga, um dos maiores cronistas brasileiros de todos os tempos, talvez o maior. Apelidado por Sérgio Porto de o “sabiá da crônica”, apelido do qual não gostava: “prefiro ser urubu, ave maior e mais triste”. Este blog presta homenagem singela ao amigo Braga, que inspira seu autor todos os dias, reproduzindo um pequeno trecho dessa joia ‒‒ a sua crônica “Nomes”:
“Vai ser construída uma ponte no bairro do Jacaré. Proponho um teste ao leitor inteligente: que nome deve ter essa ponte? Quem vai construí-la é a Prefeitura do Distrito Federal, a pedido dos moradores daquele futuroso logradouro. A ponte servirá ao povo do Jacaré. Se o leitor é realmente inteligente deve responder esta coisa simples, razoável, elementar, honrada: ‘se a ponte é no Jacaré, então deve se chamar Ponte do Jacaré’. O leitor ganhou 50 pontos, e isso quer dizer espírito de lógica mais ou menos desenvolvido e inteligência mediana. Há uma resposta que dá direito a 100 pontos, e que demonstra grande inteligência, altas virtudes cívicas e perfeito conhecimento do país em que vive: se é a Prefeitura que vai fazer a ponte, a ponte deve ter o nome do prefeito. E esta é a verdade: o futuroso bairro do Jacaré será beneficiado pela ‘Ponte Ildebrando de Araújo Góis’. Essa verdade já está sendo gravada em bronze, para memória dos póstumos, pois ‘já foi encomendada a uma fundição do bairro a confecção de uma placa em bronze’, conforme está no jornal de onde tiro essa notícia.”



sábado, 12 de janeiro de 2013

Orquidário

Nosso grupo se preparava para a caminhada matinal. Depois, iríamos conhecer o orquidário.
Aceitei prontamente o convite do guia, o simpático Castor, muito mais pela caminhada. Certa vez, quase enlouqueci em Holambra, um Carrefour de flores. Sofri uma overdose e desde então, traumatizei. Caminhar sim, mas o orquidário eu deixo aí para os colegas.
O grupo era formado em sua maioria por pessoas idosas. Ao contrário de mim, não foi difícil perceber que eles estavam lá muito mais pelo orquidário do que pela caminhada.
Castor ainda tentou me persuadir a conhecer o tal orquidário. “Vale a pena”, ele disse. “É bastante jovem e exótico”. “Agradecido, senhor Castor”, eu respondi. “O senhor não conhece da história nem a metade”.
Era uma manhã belíssima. As montanhas esverdeadas reluziam depois de uma noite de garoa. O sol quente nos aquecia, e quando o calor parecia insuportável, encontrávamos uma sombra doce e uma água fresca.
Estávamos em Serra Negra, cercados de montanhas, de aves e de muita gente alegre e simpática, que escolheu a cidadela para esperar a chegada de 2013.
Logo vi que não poderia imprimir meu ritmo habitual. O grupo sofria para vencer as íngremes subidas que exigiam muito das pernas e do sistema cardiovascular. Não seria uma caminhada. Seria um passeio.
Mas agradabilíssimo, sem dúvida. Respirávamos o ar puro das montanhas, nossos ouvidos eram agraciados com o canto das mais variadas espécies. Eu, como ignorante absoluto em cantoria de pássaros, reconheci o inconfundível bem-te-vi. Mas foi só. De resto, apenas apurei os tímpanos e deixei entrar aquela música agradável.
À medida que andávamos fui percebendo certa insatisfação de algumas pessoas, que queriam muito mais o orquidário, e não subidas e descidas em trilhas sem fim. Não se sensibilizavam com o ar puro, com o verde reluzente, com a música que enfeitiçava nossos ouvidos.
A guiazinha ‒‒ nosso Castor tinha sumido no pó da estrada ‒‒ tentava docemente amansar os sem-paciência, mostrando as belezas do lugar.
Num certo momento, descendo uma estradinha, todos perceberam que voltávamos a um ponto pelo qual já tínhamos passado. Andando em círculos? Eu nem liguei. Queria mais era aproveitar aquela chance de estar num lugar aprazível, com cheiro, luz e sons que eu deixaria para trás dali a alguns dias.
 “Olha o que vocês estão fazendo, menininha! Tem gente idosa que se sujeitou a essa caminhada só pra ver o orquidário”, parecia a voz da vovozinha do chapeuzinho vermelho.
Próximo a um lago tranquilo, encontramos uma família de gansos reunida, confabulando alguma coisa na língua dos gansos, nem se importando com aquela turma da cidade que não descobriu ainda o que é viver de verdade. Que beleza...
Enfim, o orquidário. Estranhei o lugar, com toda sinceridade. Era uma casa inacabada no cume de um morro, com areia, pedras, tijolos. Havia uma placa na entrada ‒‒ eu não conseguia ler. Na porta da casa eu enxerguei o guia Castor, com um chapéu de palha, uma roupa de caipira que lembrava muito o Mazzaropi. Mas o que era aquilo, eu me perguntei.
A placa dizia: “bem-vindo a casa do Orquidário”.
Meu Deus, eu pensei. Não era orquidário, mas sim o jovem Orquidário. Um caipira da roça, que no muito, tinha café e água para oferecer. Mas orquídeas, jamais.
No final de nossa estada tinha um livro com críticas e sugestões. Nem quero pensar o que escreveram lá para o nosso simpático Orquidário-Castor. Que não mentiu, diga-se a verdade. Em nenhum momento ele disse que tinha orquídeas, apenas convidou as pessoas a conhecerem o Orquidário, com letra maiúscula mesmo!
Aproveitei minha passagem por Serra Negra para tocar um pouco. Meu violão já tinha teias de aranha se enrolando às cordas. Toco o que gosto de ouvir. Não sou profissional, obviamente. Arranho um pouco. E como foi bom tocar “Varandas” do Almir Sater e tocar de verdade o coração das pessoas. Um grupinho se formou à minha volta e lá ficamos cantando um pouco de boa música.
Saí de lá com a alma lavada, com a cabeça mais leve e a pança mais cheia. Acho que vou aderir ao “Contrato”, de meu amigo Henri. Preciso deixar aqui em Taubaté os quilinhos que ganhei lá. Aliás, preciso de uma purificação completa. E vou começar já. Pelas Águas de Ibirá quem sabe, arrozinho integral, uma dieta vegana seria bom...
Será? 








quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Sábado


Ler antes de dormir tornou-se um sonífero. Como não tenho grandes dificuldades para pegar no sono, deixo para mergulhar em alguma obra durante o dia mesmo. É difícil achar um tempinho, mas a gente tenta... Agora, se o livro me pega de jeito, não há sono que me tire o prazer de ficar com os olhos grudados em suas páginas. Sábado, de Ian McEwan, conseguiu essa proeza. Nunca tinha lido nada dele, o que considero um pecado grave. O cara é bom demais! E Sábado é excelente! Oportunamente, depois de terminar a leitura, volto a comentar.







sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Dicas do blog - Kika

 
Comecei o ano ouvindo “Pra Viagem”, da Kika. Não conhece? Recomendo. Ela se apresentou outro dia no programa “Ensaio”, da TV Cultura. A canção “Amor Bastante” - música dela e letra do Paulo Leminski, é um brinco. Tem uma sonoridade delicada, flutuante. O disco inteiro é ótimo, diga-se de passagem. Intimista, sutil, delicioso de ouvir.
Ótimo 2013 para todos!



Comunicado

O autor informa que suas crônicas estão sendo publicadas com exclusividade na página Crônica do Dia ( www.cronicadodia.com.br ). Convida...