sábado, 28 de junho de 2014

Falando um pouco de Copa

Tem cada uma. Antes criticavam o jogador por não cantar o hino. Alguns ficavam sérios, boca fechada; outros até abriam a boca; não pra cantar, imagina; pra mascar um chicletinho, um bubbaloo de tutti-frutti; outros ainda não cantavam, não chupavam nada, e não estavam nem aí com a hora do Brasil; queriam jogar e pronto.

De repente, os caras começam a cantar. Vejam o David Luiz, por exemplo. O cara encarna uma nação inteira, estufa o peito e canta a plenos pulmões, um verdadeiro Plácido Domingo do futebol. O Neymar se emociona com o hino, com a multidão cantando, e chora, chora como uma criança. E o que a gente escuta? Os jogadores estão cantando o hino em vez de jogar; o Neymar perdeu a concentração; futebol não se ganha cantando, se ganha jogando. Ah, fala sério!

Copa do Mundo é um campeonato de tiro curto, com grandes equipes. Dificilmente uma seleção sobra. E quando sobra, não significa que irá ganhar a Copa. Em 82 nós sobramos, não? E perdemos. Há muitos fatores envolvidos, inclusive a sorte. Em futebol tudo é possível. O Brasil pode ganhar a Copa. Como também a Alemanha, a Argentina, a Holanda, a França. Mas se perdermos, não vai ser por causa do hino, pelamor...

Criticaram muito a abertura da Copa. Criticaram a Claudia Leitte. O careca lá com cara de gângster, o tal do Pitbull. Criticaram a música. Mas, sinceramente: que abertura? Que Claudia Leitte? Que Pitbull? Não vi nada disso. Eu só vi a Jennifer. A J.Lo, muito embora tenha sonhado com a Shakira num remember. Agora a musiquinha, essa eu ouvi. Que coisa medonha. Não tinha coisa melhor pra apresentar, não?

Decepção foram os espanhóis. Também, quer o quê? O bigodudo deixa o Piqué, o Xavi, o Fábregas, o David Villa e o Fernando Torres no banco? Quer ganhar do Chile como? O jogo contra a Holanda foi atípico. A Espanha sempre foi uma equipe que se pautou por jogar e deixar jogar; perdendo, aí que os caras se mandam. Tomou aquela surra, e ele muda o time inteiro? Ele não tinha melhores jogadores pra colocar. Deixa os caras então, pô!

E o Diego Costa? Ele veio ao Brasil? Veio? Acho que quem veio foi um sósia. Vixe, no Brasil tem tanto sósia... O Messi quase saiu abraçado com o Ronaldinho Gaúcho, em BH. Quer dizer, com o sósia do Gaúcho. Falaram tanto desse Diego Costa... Ele o Fred... Olha... Unha e carne. Mas será que também é o sósia do Fred?  Será? Tudo bem que o bigode ajudou na hora de botar a bola pra dentro contra Camarões. Não sei não... Eu colocaria o Luiz Fabiano. Tá certo que o moço tá mais cansado, mas olha, sou mais ele que o Jô e o Fred juntos.

As musas da Copa? O Paraguai não veio, mas disseram que a Larissa tava por aqui. Quatro anos mais velha, mas musa sempre musa. A Sara Carbonero não sei se veio. Deve estar meio decepcionadinha, coitada. Dizem que quem tá mandando no pedaço é uma tal de Vanessa Huppenkothen. A moça é mexicana, jornalista da Televisa. Ela tem um quê de Paola Oliveira com olhos verdes. Uma foto dela de azul é a Paola. Igualzinha. Musas anônimas não faltam. Francesas, italianas, inglesas, uruguaias, argentinas e brasileiras. Alguns jogos valem menos que as musas que estão no estádio.

“Fiifaaaa! Muda o foco, vai! Dá uma viradinha na câmera. Jogo tipo Argentina e Irã é um prato cheio. Vai por mim!”

sábado, 21 de junho de 2014

Crônica sisuda

Uma polêmica está abalando o sistema público de transporte sobre trilhos na França. A notícia diz respeito à compra de 2.000 novos trens que serão utilizados na melhoria do sistema de transporte de passageiros daquele país. O problema é que os trens comprados não cabem no espaço de 1.300 estações regionais por onde eles deverão circular. Um pequeno erro de cálculo, digamos.
 
Volto ao início da notícia para ver se é isso mesmo, se a jornalista não comeu bola citando o país errado. Um deslize pequeno, quem sabe... Mas vejo que não; o deslize, dos grandes, quem cometeu mesmo foram os franceses. Por causa desse erro de cálculo, o governo terá de mandar reformar todas as estações, num custo preliminar estimado em 150 milhões. “Descobrimos o problema um pouco tarde”, disse o porta-voz do setor ferroviário. “Estou consternada por esta decisão tomada por dirigentes que estão fechados em seus escritórios e não têm contato com a realidade”, afirmou Ségolène Royal, Ministra de Ecologia e Transportes. “É um desperdício escandaloso de dinheiro dos contribuintes”, disse Hean-Claude Delarue, membro de uma ONG que defende a melhoria do sistema de transportes públicos.
 
Após saborear essa bizarrice francesa, amável leitor, que tem gosto de croissant, imaginava rabiscar algo parecido, afinal, tais deslizes não são privilégios dos europeus.  Quem sabe falar do trator sepultado no Canindé, lembra?, ou do teatro joseense cujo alicerce fora erigido de trás pra frente. Tenho por mim que a crônica sairia mais leve; com certeza, mais graciosa. Mas senti, pelo caminho, a invasão de uma inspiração quase burocrática a se apossar de tudo, da mente, dos dedos, da verve; quando vi, a tela já estava repleta deles, muito embora seja eu um amante inveterado das letras, e o inimigo número 1 desses filhotes de bingo: os números.
 
Lembrei-me da Copa do Mundo no Brasil, que está a rolar neste junho de 2014, dos milhões gastos na construção e reforma de estádios. Em maio de 2009, a previsão com o gasto todo era de R$ 3,7 bilhões. Uma bela soma, não? Mais ou menos assim: Mané Garrincha, 520 milhões; Arena da Amazônia, 500 milhões; Arena Pernambuco, 500 milhões; Maracanã, 430 milhões; Fonte Nova, 400 milhões; Castelão, 300 milhões; Arena das Dunas, 300 milhões, dentre outros.
 
Foi isso que vi à época e que meus arquivos digitais tão bem guardaram. Um gasto excessivo para um país de múltiplas carências. Mas se gastou muito mais. As notícias de hoje, que pipocam em qualquer jornal e na web chegam a assustar. No Mané Garrincha, por exemplo, gastou-se 1,43 bilhão; na Arena da Amazônia, 605 milhões; na Arena Pernambuco, 529,5 milhões; no Maracanã, 1,19 bilhão; na Fonte Nova, 591,7 milhões; no Castelão, 623 milhões; na Arena das Dunas, 350 milhões. Encontraram ainda 855 milhões para colocar no novo estádio do Corinthians.
 
Está certo que esse dinheirão todo não dá nem pro começo quando o assunto é educação e saúde. Mas gastaram mal. Vejo estádios magníficos em Estados sem futebol. Vejo a Copa em todo o Brasil, quando o mais correto seria concentrar os jogos em dois ou três Estados.
 
 Ah, meus amigos, não falei? Que crônica mais sisuda. Antes tratar de assuntos mais amenos, como o show desse monstro chamado Rafael Nadal em Roland Garros ou a minha dama-da-noite, que está uma lindeza só, e que bastou mudar de lugar pra me presentear com um perfume excepcional.
 

quarta-feira, 18 de junho de 2014

domingo, 8 de junho de 2014

Crônica do Dia

Meus amigos. Um novo projeto. Sábado sim, sábado não. Minha crônica. No “Crônica do Dia”. Dia 14/06. A primeira. Um grande time. Cronistas de diversas partes do Brasil. Batendo bola. Cada dia uma crônica. Pra quem gosta, biscoito fino. Tem gente boa lá. Detalhe: a crônica será inédita. E não será republicada aqui, no Recanto, Texton ou Matéria-Prima. Só lá. No “Crônica do Dia”. Visitem http://www.cronicadodia.com.br/. E vamos que vamos. Valeu!

sábado, 7 de junho de 2014

Futebol

Meu pai, que foi goleiro, que jogou em muitos clubes da cidade, que se tornou profissional, que defendeu o Esporte Clube Taubaté, que chegou a ser cotado pra Seleção, que defendia a bola com uma única mão, não gostava de futebol. Epa! Peraí. Não... Não é bem assim... Tá, ele gostava. Gostava sim. Mas digamos que com o tempo, desgostou. O futebol pra ele perdeu o encanto. O romantismo vai. Não torcia pra time nenhum. Diziam que era são-paulino. Ele negava. Não assistia a jogos na tevê. Nos domingos à tarde, quando eu o convidava para ir ao Esporte, ele preferia o cochilo.

Eu não entendia muito bem esse seu comportamento. Alguém que viveu no meio, de repente, desgosta de tudo? Mas acho que agora, 11 anos após a sua morte, eu começo a entendê-lo um pouco.
A ficha caiu no domingo à tarde, depois de assistir ao primeiro tempo do jogo Santos e Flamengo, pelo Campeonato Brasileiro de Futebol. Desliguei a tevê e pra lá só retornei quando a Cultura apresentava o “Metrópolis”. Optei por uma arrumação na minha bagunçada mesa de trabalho. Isso me deixou encabulado. Eu, hein? O que tá acontecendo? Foi aí que comecei a entender.
Primeiro a arrumação. Vamos lá. A verdade, meu amável leitor, é que eu me encontro no caos. Esse é o problema. Você, não? Pois é... Eu, sim. Uma conta pra pagar, um papel com a impressão de uma crônica do Veríssimo, o nome do médico indicado por um amigo, uma anotação, livros, agenda, óculos escuros, papéis, enfim. Mas tudo que eu quiser eu acho nesse caos da minha mesa. No meu caos. De repente, minha mulher dá uma passadinha pelo escritório e deixa a mesa um brinco. Tudo organizado e limpo. E eu não encontro mais nada. Pois num domingo à tarde, depois de uma cachacinha, um almoço em família, largar o futebol pra arrumar mesa de trabalho?  Devo estar ficando doido!
Mas foi aí que a coisa começou a fazer sentido. Que futebol? Esse aí, meus camaradas? Essas peladinhas? Nada! Futebol acabou. Não existe mais. Pelo menos por esses campos daqui, porque Atlético e Real foi um jogaço! Não sei diagnosticar a raiz do problema. Acho que um pouco tem a ver com a televisão, o negócio em si. A televisão banalizou o futebol. Jogo toda quarta e domingo? Cansa! Até a eternidade cansa, não? Lembro-me que antigamente não se passava jogo na tevê com tanta frequência. Talvez por isso, o produto era mais interessante. Lembro-me que os jogos no Rio, no domingo, eram às cinco da tarde. Maracanã lotado. Fla-Flu. Uma beleza. Aí veio a tevê e mudou o horário. Não, não. No Rio, jogo tem de ser às cinco. Tem mais a cara do Rio.
Mas por virar negócio, aquele romantismo ingênuo tão característico das pelejas de antigamente se perdeu. Veja como as pessoas se divertem com futebol amador. Outro dia um jornalista disse que alguns jogos da rodada foram ofensas ao futebol. Imagino que Garrincha, Sócrates, Telê Santana e tantos outros devam estar se contorcendo.
Meu pai, um visionário, já devia estar vendo tudo. Hoje, na hora de jogo, acho mais interessante arrumar a mesa de trabalho. E sem remorso.  Pelo menos a gente descobre preciosidades como essa crônica deliciosa do Veríssimo sobre aniversário de casamento. É hilária.

Comunicado

O autor informa que suas crônicas estão sendo publicadas com exclusividade na página Crônica do Dia ( www.cronicadodia.com.br ). Convida...