quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Confidências...

Meus amigos. Saindo do forno. Quentinho. Demorou um bocado, mas ele vive entre nós. Ufa! Acertando os últimos detalhes do lançamento. Dia. Local. Horário. Em breve volto com mais novidades. Conto com vocês lá, hein?!






sábado, 22 de fevereiro de 2014

Coffee break

O intervalo para o coffee break é um interlúdio apreciável em qualquer workshop que se preze. Por mais interessante que seja o assunto, por mais notável que seja a figura com o microfone na mão, o sucesso do evento passa induvidosamente pela qualidade do lanchinho. Lembro-me de que certa vez cheguei atrasado a um workshop institucional. Peguei meu glorioso crachá, fui sentar num dos poucos lugares ainda vazios (para o meu azar, ou minha sorte, depende do ponto de vista, na primeira fileira da frente). Estavam ainda na fase de apresentações. Ao meu lado tinha um sujeito grande, de barba espessa, uma figura que me parecia bastante conhecida. Tentei puxar de meus registros, mas nada. Após alguns minutos de blá-blá-blá ele foi chamado ao palco para a sua palestra: era Mario Sérgio Cortella. Pois mesmo num workshop que tenha como um de seus conferencistas o notável filósofo e escritor Mario Sérgio Cortella, o coffee break não pode ser relegado a segundo plano. Não. Não pode.
Recentemente participei de um seminário. Não vem à crônica, quer dizer, não vem ao caso, de que se tratava. Embora tenha sido interessante, não vem ao caso. O importante aqui, no momento, é o coffee break. Dou a mão à palmatória, eu sei, não precisa enfiar o dedão na cara que eu sei que você vai fazer isso, pois outro dia até eu me rendi ao inglesismo institucionalizado ao batizar uma crônica de Widow’s Theory, mas decididamente, é um pé no saco se deparar a todo o momento, nesses encontros, com essas palavrinhas chatinhas ditas por todo mundo, com sotaques e trejeitos, tais como coffee break, workshop, checklist, gaps etc. Talvez tais expressões sirvam para tornar o assunto mais chique.
Mas voltando ao cafezinho (que é o que interessa), ou ao coffee break (como queiram), digo e repito que o sucesso de qualquer seminário passa invariavelmente pela qualidade do café servido nos intervalos. E qualquer café (e café aqui, meu querido, no sentido mais amplo que você possa imaginar) digno e bem servido passa inapelavelmente pela qualidade do suco de laranja. E suco de laranja de caixinha, meu amigo, sinceramente? Não dá.
Num mundo artificial em que o silicone artificializa o peito, a tintura artificializa o cabelo, o botox artificializa a cara, a indústria fast food artificializa o lanche, vem um sujeito aqui se preocupar se o suco de laranja servido no lanchinho é natural ou de caixinha?! É. Exatamente isso. Suco de laranja. Natural. Não o culpo pelo pensamento, camarada, talvez já estejamos nos acostumando com o artificialismo generalizado; é a normalização do artificial. Talvez até estejamos gostando. Tudo é artificial neste mundo, oras! Mas toda vez que me deparo com um suco de caixinha substituindo o bom e velho suco de laranja natural, ah, não dá!  Eles até tentam transformá-lo em suco com jeito de natural, até os gomos eles conseguem fabricar e enfiar na caixinha! Mas é só dar a primeira golada para perceber que o natural tá fazendo falta.
E vai continuar fazendo. Quero descobrir o hotel que vai trocar a tranquila tarefa de esvaziar umas caixinhas na jarra pelo trabalho manual e repetitivo de espremer dúzias e dúzias de laranjas. Ainda bem que os canapés continuam os mesmos. Croquete continua sendo croquete. Quibe continua sendo quibe. Empada continua sendo empada. Coxinha continua sendo coxinha. Não sei até quando. Pois não é que dia desses me serviram numa festa uma coxinha de azeitona!?

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Kátia

“Foi especial estar com você. Como sempre... Espero que não tenha ficado gripada. Grande beijo”.  Ele mede as palavras e conclui que elas dizem exatamente o que quer dizer. Nem menos nem mais. Na medida. Envia o e-mail e espera que ela o receba com segurança.
Kátia cresceu e hoje é uma menina linda. Gostaria de estar com ela todos os dias. Sente sua falta. Mas o combinado é uma vez por mês. Assim determinou o juiz. Ela parecia resfriada naquele final de semana, mas nunca esteve tão carinhosa. Apesar da distância, ele sente, ah, sente, o carinho, a atenção, o cuidado dela.
Pensou que a separação pudesse alargar a distância entre eles. Como pode? Quando estavam juntos, almoçando, jantando, ou mesmo antes de dormir, ele nunca se sentiu tão próximo a ela quanto agora. Chegava em casa todos os dias cansado, com a cabeça cheia de problemas, não tinha a mínima disposição para brincar. Isso decididamente os afastou. E a culpa foi sua. Quantas vezes ela não o convidou para brincar de pintar, para chutar bola no quintal, para lerem um livro juntos, e ele não arrumou uma desculpinha esfarrapada?
Mas agora tudo parecia diferente. Ele a vê pouco, muito pouco. Gostaria de mais. No entanto, a cada visita, o amor se multiplica. Investe na qualidade. Se não tem quantidade, se não pode ficar muito tempo com ela, então no tempo em que fica ele investe tudo. E dá tudo de si. E dá o melhor que pode.
Kátia nasceu prematura. Ele e Luciana não eram casados. Namoravam havia três anos, mas casamento estava fora de cogitação. Pelo menos pra ele. Nunca a ideia tinha passado pela sua cabeça. Gostava da relação, mas cada um na sua. Mesmo após as complicações do parto de Kátia, ele se manteve firme no propósito de não se casar. Então ela nasceu, passou os primeiros meses no hospital, e de repente, nunca esteve tão junto de Luciana como naqueles meses. E a ideia de ficar longe de Kátia simplesmente o aterrorizou. Um mês após Kátia deixar o hospital, ele se mudou para a casa de Luciana.
Mas o casamento não resistiu à presença física constante, às exigências peculiares de Kátia, à rotina desgastante de uma casa. Como um riacho, que sentindo a falta de chuva, vai lentamente diminuindo de tamanho, o tempo foi passando e quando se deu conta, o casamento tinha secado. De volta à antiga casa, ele não sentia falta de Luciana, e dos momentos alegres que passaram juntos e que não foram poucos, mas do rostinho lindo de Kátia, de seu jeito meigo e natural de ser, do amor que ele sabia que existia, mas que não tinha noção do tamanho.
Ouve o sinal sonoro e vê que Kátia respondeu. “kkkkkkkkkkkk. É claro que eu adorei ficar com você, pai!”. Sente-se bem com o carinho da filha. “E não estou gripada! Para de se preocupar!”.
Liga a televisão e deixa o corpo cair sobre o sofá. Agora só o mês que vem, pensa. Para ele, uma tortura. “Durma bem”. Tenta, através do pensamento, enviar bons fluidos a Kátia.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Porco-espinho

Há noites que pedem de joelhos um passeio. Por mais que você esteja um bagaço; por mais que o dia tenha sido daqueles. Há uma fresquidão gostosa no ar e, digamos, uma atmosfera fitness, típica das noites estivais. Você olha pela janelinha e sente o calor, o brado noturno mandando largar tudo, o viciante sofá, a não menos viciante gelada, esse encapsulamento idiota que lhe faz um idiota na frente da telinha. Mas falo de um passeio de verdade, com as próprias pernas, sem eira nem beira. Uma flanada à larga. Ah, é bom, muito bom!
Dona Sandra, 52 anos, talvez tenha sido fisgada por essa ideia, e livre, leve e solta, acompanhada apenas de seu cãozinho, foi se entregar ao desfrute de uma flanada a dois pela Marquês de São Vicente, na Gávea. Não imaginava que, nas proximidades do Instituto Moreira Salles, tivesse seu mimoso passeio interrompido por um incidente no mínimo invulgar para uma ruela bucólica da zona urbana carioca: foi atingida na cabeça por um serelepe porco-espinho, que caiu glorioso de cima de um insuspeito poste. Sim, meu amigo, minha querida. O que você está lendo é o que você está lendo. Um porco-espinho. Um poste. Um inofensivo poste.
Quando me deparei com a notícia nos jornais, confesso que num primeiro momento, assim como você, não acreditei. Mas depois, já adaptado a mais uma das bizarrices tupiniquins, me pus a refletir e uma camada densa de preocupação tomou conta deste cronista chegado a uma leseira: os famigerados desdobramentos.
Dona Sandra passa bem. Embora tenha sofrido centenas de arranhões no couro cabeludo; embora tenha se submetido a longas sessões de extração de espinhos à pinça, passa bem, e isso é o que mais importa. Porém, outros desdobramentos se avizinham.
Primeiro, o caráter universal do simplório fato. Com certeza, não se trata apenas de um eventozinho pós-moderno carioca. É canarinho, meu amigo. É canarinho. Se aconteceu lá, por que você acha que estamos livres de um porquinho espinhento aparecer por aqui? Ou você acha que porco-espinho suburbano só existe na cidade maravilhosa?
Segundo, os efeitos psicológicos. Então, se já não bastassem as preocupações diárias, tais como desviar de cocô de cachorro; evitar andar debaixo de frondosas árvores pra não ser premiado; não passar debaixo de portãozinho chiquetérrimo; rezar pra que nenhum projétil desgovernado resolva se governar justamente pra dentro de você, agora temos que andar também de olho em poste, que sempre esteve lá, inofensivo, mas que agora, da noite pro dia, tornou-se esconderijo de roedores perigosos. Vocês não têm ideia de como tudo isso faz um mal para a psique humana.
Agora, há um desdobramento que me preocupa mais: as nossas autoridades. Ou você tem alguma dúvida de que brilhantes ideias não vão sair das brilhantes cabeças de nossos políticos? Já estou até vendo. Não estranhe se num futuro bem próximo não tenhamos de sair de casa com um belo de um capacete verde-oliva no cocuruto e uma bolsinha de primeiros socorros a tiracolo. Duvida? Tem empresário já trabalhando com a ideia. Aposto.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Sentado à beira do mar

Ubatuba. Praia da Almada. Vejo-o sentado olhando o mar. Sobre a mesa estão dispostos cuidadosamente em forma de pirâmide: uma carteira de documentos preta, na base; um maço de cigarros Marlboro; um isqueiro cinza, no vértice. Pela cara tomada de rugas, ele deve ter uns setenta. Está sozinho. Veste uma bermuda démodé bege, uma camisa de botão listrada, sandálias de couro.
É uma tarde de verão especialmente linda. O mar nunca esteve tão verde (o mar é azul! — uma voz irritantemente infantil me buzina no ouvido). Não, meu querido, neste caso, o mar que está agorinha à minha frente, este aqui que estou vendo com os olhos que Deus me deu, este mar é verde. Ah, é verde! Radiantemente verde! As espumas que brotam da arrebentação são brancas, mas são tão brancas, e tudo é de uma nitidez tão absurda, que a cena toda parece irreal, uma imagem digital, trabalhada, coisa de cinema. Deveria estar no mar, isso sim, lá dentro, sentindo o sol e o vento na pele, a água gelada a refrescar o corpo. Mas confesso que a coisa aqui fora também me interessa. E muito, apesar de estar rabiscando tudo isso precariamente numa maçaroca de finas folhinhas de guardanapo. Mas é o que tenho, oras. E quando iria imaginar que fosse me deparar com um personagem de uma de minhas crônicas fumando seu Marlboro em plena praia da Almada?
Na verdade, o que me chamou a atenção nele foi sua atitude de balançar as mãos como se tivesse avistado alguém. Sabe aquela cena clássica do cara perdido numa praia deserta pedindo socorro? Pois é. Igualzinho. A diferença é que ele não tirou a bunda da cadeira, mas o movimento das mãos, dos braços, igualzinho.  Logo percebi que ele queria chamar a atenção de um vendedor de queijo coalho. E num certo momento parecia mesmo ter conseguido. Doce ilusão. Ele ficou ali, triste, solitário, irritado. E sem queijo. Desde então minha atenção abandonou o mar, a paisagem, o copo de breja, e ficou nele. E aí, meu querido, a mente viaja. Será que tem filhos? Netos? Onde estão? E sua mulher? Morreu? Separou? Ou será que nunca se casou? Não tem filhos, nem netos, nem mulher, nem ninguém?
Percebo num dado momento que ele fica imóvel olhando as ondas que vêm e vão. E fica assim por um bom tempo, segundos, minutos. Nem uma mulher gostosa, bronzeada, que passa à sua frente é capaz de fazê-lo se desconectar do mar. Ah, ele sofre por amor. Olhar as ondas, totalmente desconectado do mundo? Só tem uma explicação: amor não correspondido. Meu amigo sofre, e sofre por amor.
Fico com vontade de puxar conversa, de saber mais sobre o meu personagem. Sinto que ele tem vontade de falar com alguém. Talvez seja tímido. Puxa vida, vir à praia neste dia lindíssimo e não conversar com ninguém? Deve ser triste demais. A única pessoa a quem ele se dirigiu nessas horas em que ficou olhando o mar foi o vendedor de queijo coalho, uma linguagem corporal muito bem feita, mas inútil. E o garçom, obviamente, a quem pediu as cervejas que tomou (foram três) e um quibe. Levanto-me com a intenção de dar um mergulho. Me aproximo de sua mesa. “Boa tarde”, digo, como quem não quer nada. Ele me olha desconfiado. Toma o último gole de cerveja, desmancha sua pirâmide, põe tudo no bolso e se levanta. Vejo que seus olhos parecem molhados. “Boa tarde”, me responde emburrado. Faz um gesto com as mãos que não entendo. E vai embora.

Comunicado

O autor informa que suas crônicas estão sendo publicadas com exclusividade na página Crônica do Dia ( www.cronicadodia.com.br ). Convida...