Eu, por exemplo. Aprecio as pausas.
Prefiro fragmentar o meu dia, as minhas tarefas, o meu trabalho. Isso me
permite dedicar profundidade e esmero em cada uma de suas partes. Ando devagar,
não porque já tive pressa, mas porque é da minha essência. Minha mulher, ao
contrário, é ágil, gosta de resolver tudo com muita rapidez.
Toca a campainha. Estou no meu quarto
sossegado lendo um livro. Levanto devagar, calço os meus chinelos, dou uma
coçada no cocuruto e vou. Já escutei várias vezes ela me pedindo pra ir
depressa. Digo: “meu bem, o interesse é de quem está batendo. Não meu. Ele que
espere. Se está realmente interessado, vai esperar”. Geralmente eu chego e não
tem mais ninguém. Com certeza, era da turma dos ansiosos.
Em outras vezes, quando a mesma campainha
toca, minha mulher sai correndo pra atender. Quer resolver tudo. Quando a vejo correndo
pela escada eu fico cansado.
Com o telefone é a mesma coisa. Quando
toca, eu não saio voando para atender. Se der tempo, tudo bem; se não der, que
liguem de novo. Minha mulher sempre consegue chegar a tempo de ouvir a moça do
telemarketing oferecer um novo cartão de crédito.
Qual o melhor ritmo?, eu lhe pergunto.
Lento ou acelerado? Hein? Hein? Você é daqueles que dirigem o dia com certa inspiração
bovina, ou da turma dos rapidinhos, que corre pra não perder a hora? Você curte
mais uma flanada no parque, olhando flores e arbustos, ou uma corridinha pra
manter a forma? Lento ou acelerado? Hein? Diga lá.
Parafraseando meu querido mestre, o
Braga, digo que se você responde que não existe um ritmo melhor, e que o ritmo
está na essência de cada um, ah!, você é uma pessoa inteligente e acima de
tudo, antenada com o propósito da crônica e o pensamento do cronista. Se você
responde “nem tanto ao céu, nem tanto à terra”, você é uma pessoa que não se
deixa enganar por sofismas, equilibrada, e bem resolvida em todos os aspectos
de sua vida. Agora, se você responde que depende, aí meu amigo, eu só posso concluir
que você é possuidor de uma inteligência rara, pra poucos, evoluída.
Você já imaginou se o Ayrton Senna
fosse lento? Ou se o Neymar dominasse a bola e demorasse alguns minutos pra
decidir o que fazer? Já imaginou o entregador de pizza andando a trinta por
hora? E o podólogo com pressa, querendo dar um jeitinho rápido na sua unha
encravada? O dentista, atrasado para a consulta anual com o urologista,
querendo obturar seu dente em segundos?
Pois é... O ritmo está na essência, e a
essência do ritmo deveria ditar as escolhas humanas.
Divagações... Divagações...
Acordo na padaria. Olho pro
relógio.
“Moça, por favor, cadê os meus pães?!”