terça-feira, 27 de novembro de 2012

Valter Hugo Mãe leva o Portugal Telecom


Não deu para o Michel Laub com seu ótimo “Diário da Queda”. Quem levou o Portugal Telecom como melhor romance e Grande Prêmio Portugal Telecom 2012 foi Valter Hugo Mãe com o livro “A Máquina de Fazer Espanhóis" (ed. Cosac Naify; R$ 39; 256 págs.).
O romance narra a história de um barbeiro de 84 anos que, depois de perder a mulher, passa a viver num asilo e revê sua trajetória  (Folha, 27/11).
Na categoria conto venceu Dalton Trevisan pelo livro "O Anão e a Ninfeta" (ed. Record; R$ 34,90; 160 págs.)
Nuno Ramos venceu a categoria poesia com "Junco" (ed. Iluminuras; R$ 35; 120 págs.).
Estou louco pra comprar o livro do Dalton.
 





 
 

sábado, 24 de novembro de 2012

Trechos de um concerto


Ela chora do meu lado. Não o choro da tristeza, da desilusão, da perda, da tragédia. Não esses tipos, afinal, está no céu, e a lágrima que desce reflete o instante mágico que passaria despercebido se ela não fizesse um esforço de atenção, de compreender que aquilo tudo, aquele momento fugaz que vai acabar mais rápido que um piscar, é o que comumente chamamos de felicidade.

domingo, 18 de novembro de 2012

A distância nos dará a dimensão de Saramago

 
Que não deixem de ler José Saramago, porque, ao lê-lo, crescemos em sabedoria. Ele dizia que os livros carregam dentro deles uma pessoa, que é o autor. Acariciemos o autor acariciando seus livros. Somos seres de palavras, festejemos quem nos deu palavras tão belas agora que completa 90 anos."
Pilar del Río 

Saiu na Folha uma entrevista por e-mail de Pilar del Río, viúva do maravilhoso José Saramago. Em 16 de novembro, ele teria completado 90 anos de idade. Recomendo. A mesma língua afiada. Os mesmos ideais. A mesma visão de mundo.
Ele escrevia para desassossegar.
Lembro-me de uma entrevista de Saramago no Roda Viva. Ele dizia “Deus foi transformado em pai autoritário, juiz, fiscal, carrasco. E o próprio Deus, se é que existe, não tem culpa disso, mas a culpa é daqueles que falam em seu nome. Deus se transformou num instrumento de poder sobre os outros”.
Desassossego puro. De pirar.
“A distância nos dará a dimensão de Saramago: agora, nós o temos tão próximo, era uma pessoa tão simples, que, às vezes, tem-se a tentação de pensar que esse homem era mais um”, disse Pilar.
 
 
 



 

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Balada Literária em Sampa


Marcelino Freire organiza o evento. Ele que escreveu “Contos Negreiros”, este livro maravilhoso que não sai de minha cabeceira. Ele que tem o blog “Ossos do Ofídio”, que acompanho com muito gosto. Ele que é um cara nota 1000, que fala o que pensa, que vive sua essência como poucos. 

Mais um ano de Balada Literária. Este é o sétimo. E a cada ano é uma festa diferente. Não estranhe, por exemplo, se não encontrar, abaixo, nenhuma foto de escritores. É que o homenageado deste ano é o paulista Raduan Nassar. Ele que abandonou a literatura depois de escrever dois clássicos brasileiros, Lavoura Arcaica e Um Copo de Cólera. Logo, o que vale é a obra. E são as obras que darão a cara - e o tom - da Balada Literária 2012. Obras cruciais que, muitas vezes, levaram os seus autores à censura, à perseguição. Discutiremos o que é ser poeta na época de hoje. Falaremos de mídia, linguagens radicais, novos suportes para a literatura. Celebraremos o teatro, a TV, o cinema. Tudo discutido de forma descontraída - e pulsante. A literatura sem frescura. Como tem de ser. Veja a programação abaixo. E apareça. Assim, "sem aparecer". Esperamos por você.
                                                                                         MARCELINO FREIRE
                                                                                                Criador e Curador

A programação completa está aqui http://baladaliteraria.zip.net/.

O Marcelino é esse aí embaixo.

Uma festa! E para todos os gostos!






 

sábado, 10 de novembro de 2012

O cemitério


Minha mulher para o carro, me deseja bom dia, me dá um beijo e vai. Fico na marginal da Dutra. Atravesso a rua e me instalo num ponto de ônibus defronte à rodovia.  O concreto gela minha bunda, mas não me incomodo. Tá calor. Pego a agenda, dou uma olhada, espero minha carona: o Eduardo.
À minha frente, o cemitério municipal. Pomposo. Cinzento. Gozado isso. Todo cemitério que conheço é colorido. Túmulos de múltiplas cores. Um mosaico. Em Taubaté, não. Em Taubaté, o cemitério é cinza.
Árvores frondosas e árvores secas. Algumas pessoas caminhando por entre os túmulos. Um cachorro. Fecho a agenda. A imagem é mais interessante.
Não consigo deixar de notar, à primeira vista, e com certo escárnio, confesso, o texto esculpido no verdejante barranco ao lado da rodovia, ao pé do cemitério (a imagem sobreposta dá a sensação de uma coisa só), ressaltando o fato de Taubaté ser a capital nacional da literatura infantil, obviamente por ser a cidade de nascimento de Monteiro Lobato. Um texto colocado ao pé do cemitério. Eta, falta de imaginação desses politiqueiros!
Lobato não está enterrado lá. Até poderia, mas não está. Algum desavisado pode fazer a associação. Não. Não tem nada a ver. Mas outras associações até caberiam, não? A cidade morta lá em cima (o cemitério), o Cidades Mortas, livro do Lobato, e, como não pensar também, a cidade morta aqui embaixo, que a cada dia morre um pouco mais pelas mãos de políticos desonestos e incompetentes. Pronto! Associação feita! A morte como elo. Bingo!
E é carro que vem. Carro que vai. Parece um jogo de tênis. A bolinha pra lá. A bolinha pra cá.
Lembro-me que, quando criança, eu gostava de ficar espiando pelos vãos das sepulturas, nas visitas que fazia acompanhado de minha avó, ao túmulo de meus bisavós. Um costume, digamos, lúgubre. Lembro que era um pouco escuro lá dentro; eu, na minha santa ingenuidade, tentava ver se tinha movimento, qualquer movimento, alguma coisa do outro mundo, uma alma penada.
Fico pensando qual seria a minha reação se alguém saísse lá de dentro no exato momento em que eu espiava. Não alma penada da minha fantasia, isso não existe. O coveiro, por exemplo. De repente ele podia estar dentro de um, ajeitando as coisas a mando da família, separando o saco de ossos, abrindo lugar pra mais um infeliz. Eu mijaria nas calças, ah, mijaria!
E como esquecer a piadinha contada aos quatro ventos pelo Monsenhor Antunes, grande amigo? Na mesa cheia de comida, ele desfiava o repertório. E depois de tantas piadas e cervejas, ele vinha com essa: “O avião caiu. Foram encontrados dez mil corpos.” Hã? Como? “Ele caiu sobre um cemitério,  he-he-he!”
Penso na calmaria que deve estar lá. Aqui é carro que vem, carro que vai. Barulho de motor. Fumaça saindo pelos escapamentos. Ventania. Um senhorzinho vendendo passe. O pai e o filho preocupados querendo saber se o ônibus pra São José dos Campos já passou. O policial rodoviário federal esperando a viatura, com uma arma de cabo amarelo de um lado, uma de cabo preto do outro, falando ao celular, falando não, gritando! (o barulho dos carros não o deixa ouvir a própria voz, então ele grita, grita sem parar). Carros brigando para ver quem entra primeiro na rodovia. O estardalhaço normal de começo de dia.
Mas lá não. Lá deve estar um marasmo só. Deve dar para ouvir os passarinhos, a folha da árvore caída no chão sendo arrastada pelo vento, um bate papo que vem de longe, sentir cheiro de flor.
Pensando bem... Prefiro este estardalhaço mesmo. Apesar de tudo, aqui é bem melhor. Tem dias até que dá pra deitar o corpo numa redinha instalada de frente para o mar, ao som das ondas, bebendo água de coco, comendo camarão.
E é carro que vem, carro que vai.
Na minha frente o cinzento cemitério. A imagem é insistente. Abro novamente a agenda, mas não consigo desligar. Em seus domínios adormecem os restos mortais de boa parte de minha gente. Homens e mulheres sadios, e gordos, e famintos, e risonhos. Gente que bebia, que comia, que falava, que transava, que brigava, que se emocionava, que rezava, que vivia. Nem quero saber o que sobrou deles.
Meu pai está lá. Não. Não está. Meu pai está aqui. Comigo. Sempre esteve. Desde quando sua luz apagou. Lá está o que sobrou do seu corpo. Matéria. Casca. Meu pai era muito mais que um corpo, que matéria, que casca. Meu pai era a gema do ovo.
Às vezes me pergunto como vou encarar a morte. Espero que com serenidade. É um fechar de olhos. Pronto. Acabou. Não dá pra ficar pensando no resto, como as coisas vão ficar, se os filhos estão encaminhados, se a mulher vai arrumar outro. E os meus projetos? Vou ter de interromper todos? Etc., etc. Vou ter de interromper... Vão te interromper! Não é você que aperta o botão da luz !
A morte é pior para quem fica. Que sofre a ausência, a saudade. Pra quem vai é um sono. O que você sente quando dorme? Pois é! Nada! É a morte! Um sono. Um sono sem sonhos (alguém já disse isso).
Minha carona chega. O Eduardo ao volante. A Tereza ao lado.
Bom dia! Olho para trás e ele está lá. Cinzento. Frio. E me encara novamente. Trocamos olhares. Seu olhar é muito parecido com o olhar de quem tá dando mole. Confesso que nunca fui de desprezar uma flertada. Mas... Neste caso... Sinto muito. Sou um homem comprometido. E fiel.
Acelera este carro, Edu!

terça-feira, 6 de novembro de 2012

A importância de relacionar-se


“(...) não faz muita diferença se estou falando com um velho amigo ou um novo porque sempre acredito que somos iguais: somos todos seres humanos. (...) Onde quer que eu conheça pessoas, sempre tenho a sensação de estar me encontrando com outro ser humano, exatamente igual a mim. Creio ser muito mais fácil a comunicação com os outros nesse nível. Se conseguirmos deixar de lado as diferenças, creio que poderemos nos comunicar, trocar ideias e compartilhar experiências com facilidade”. 
                                                                                                Dalai Lama
 
Quebrar barreiras. Dar ênfase à igualdade e não às diferenças. A partir do momento que eu me condiciono a enxergar todas as pessoas como iguais a mim, eu quebro barreiras, e me torno mais transparente a elas. Eu ganho em comunicação, confiança, eu consigo compartilhar experiências sem hesitação.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Democracia de araque


Sou do tempo em que um time ganhava em campo o campeonato; sou do tempo em que o povo elegia o prefeito e não o MP, juízes, Tribunais etc... 

Deu na televisão esses dias: em Guaratinguetá, o candidato a prefeito Francisco Carlos ganhou, mas não levou. Ele concorreu às eleições, foi eleito, mas teve o registro da candidatura indeferido pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-SP) no dia 22/10. Anota aí: a eleição foi em 07/10.
Procurando pelos jornais, tentei entender melhor esse quebra-cabeça. O pedido de impugnação à candidatura de Francisco Carlos foi feito por coligações adversárias, que alegaram que ele tinha sido condenado por improbidade administrativa em primeira instância e teve contas do primeiro mandato rejeitadas pelo Tribunal de Contas.
A Justiça Eleitoral de Guaratinguetá negou o pedido e ele pôde concorrer ao pleito no último dia 7. As coligações recorreram ao TRE, que indeferiu o registro da candidatura do tucano 15 dias após a realização da votação.
Descobri também que esse tal primeiro mandato se deu em 1996.
Pera aí. Tá errado! Não dá pra conceber uma coisa dessas e a gente achar que isso é normal! Isso é um baita ABSURDO!!!!
Sem entrar no mérito da questão da inocência ou culpabilidade do prefeito, não que isso não seja importante (é, e muito!), mas o fato é que não dá para a Justiça Eleitoral tomar uma decisão dessas depois que passou a eleição, depois que ela permitiu que os eleitores votassem no candidato Francisco Carlos!
Isso é mais um soco na cara da democracia! Depois escuto que os votos recebidos pelo senhor Francisco Carlos serão tidos por nulos ou anuláveis. Então quem votou legitimamente no Francisco Carlos vai ter seu voto considerado nulo? Mas onde está o direito ao voto? Como nulo? Ele não era candidato? Não fez campanha?  Não foi eleito? Eu, se fosse um eleitor do Francisco Carlos, tentaria encontrar um agasalho jurídico e acionaria o Estado, a fim de garantir o meu legítimo direito de voto!
Sem contar outro problema. Abre-se uma nesga perigosa para o jogo político. Quem não tem chance de vencer regularmente uma eleição, vai buscar a vitória no tapetão. É muito mais interessante. E nesse caso é muito melhor que a impugnação ocorra após o pleito. Aí não tem erro. Se fosse antes, haveria um fracionamento dos votos entre todos os candidatos. Depois, não. O segundo leva, como aconteceu em Guaratinguetá. Em Osasco aconteceu algo parecido. Em Caçapava, impugnaram a candidatura do vencedor e a proclamação está aguardando decisão judicial.
Sou do tempo em que um time ganhava em campo o campeonato; sou do tempo em que o povo elegia o prefeito e não o MP, juízes, Tribunais etc...
Pelo bem da democracia, pelo bem da legitimidade, pelo bem do que é correto e regular, a Justiça Eleitoral tem que dar um jeito de proferir decisão desse naipe antes do pleito. Depois, meu amigo, Inês é morta! Senão, vocês estarão enganando o povo!
Isso não é democracia! Isso é uma farsa! Não adianta a Justiça Eleitoral ficar fazendo propaganda na televisão conclamando o povo a votar, a participar da festa democrática que é uma eleição. Pra depois ver acontecer essas barbaridades?
Uma democracia de meia-tigela, diria minha saudosa avó, essa nossa! Metigela, eu concordaria, lembrando a expressão que saía da boca de um menino de 4 anos.
 

PS. Um quebra-cabeça mesmo. Depois que eu já tinha escrito o que você leu acima, fiquei sabendo que o TRE voltou atrás, e Francisco Carlos vai assumir em Guará. Menos mal.

Comunicado

O autor informa que suas crônicas estão sendo publicadas com exclusividade na página Crônica do Dia ( www.cronicadodia.com.br ). Convida...