Essa
questão repercutiu quando o sambista Zeca Pagodinho, acometido por uma certa
dose de saudosismo, disse à Folha em 04/02/2013, que o carnaval acabou, que não
fazem mais carnaval como antigamente, que carnaval bom mesmo era o do passado. Será
que ele está certo?
Estive
num baile de clube na segunda-feira de carnaval. Procurei o samba para brincar,
mas não encontrei. Cadê o samba?, quis saber. Vi a diversidade sendo mandada
para a Sibéria, sendo ignorada no meio daquele barulho infernal de guitarras e
distorções, sendo relegada a segundo plano pelo axé ‒‒ a
música baiana que toma conta de todos os palcos de bailes de carnaval. Até o rapper
sul-coreano Psy eu encontrei. Poxa, num baile de carnaval?
Percebi
claramente que a banda era performática, estava mais preocupada em fazer as
coreografias, vestir-se de mulher maravilha e super-homem, tocar as músicas que
tocam na rádio, e fazer as pessoas tirarem os pés do chão. Que coisa mais chata
esse negócio de “tira o pé do chão!”. Já encheu.
Mas
são novos tempos, e contra isso tudo não dá pra fazer nada, apenas esbravejar.
O
carnaval acabou? O profeta do apocalipse Zeca Pagodinho tem razão? Um detalhe:
tinha muitos jovens lá. E dançavam freneticamente.
Um coach
famoso disse que realidade não existe. Existem percepções. E a do Zeca é
correta, não duvide. Só que para aquela molecada esfuziante, o carnaval tava
bombando. Se você perguntar se eles gostaram eles vão dizer que sim, que
adoraram, principalmente quando a banda tocou o Psy. “Ah, aí sim ficou maneiro!”
Se você perguntar para a vovozinha comendo pipoca, que estava esperando a banda
tocar Beth Carvalho, ela vai dizer que o baile estava horrível.
Percepções,
meu amigo. Só isso. É por essa razão que é um saco ouvir alguém dizer que
determinado negócio estava ruim, horrível, uma porcaria, e outros adjetivos
mais, como se aquela opinião fosse a mais sólida das verdades. Não, não é. Pode
ser que seja pra ele, mas não é para muitos. É apenas a percepção de quem está
descontente, insatisfeito com o que vê. Mas qualquer percepção, por mais
razoável que seja, está longe de ser uma verdade absoluta, e não é uma
realidade.
No
entanto, que se danem os valores do coaching. Esbravejemos,
amigos! Esbravejemos!
Carnaval
sem samba não dá, né?! Saudosismo ou
percepção, o fato é que senti saudades da percussão, dos sambas-enredos ‒‒
novos ou velhos, dos sambistas, do bumbum paticumbum prugurundum, do
tum-tum-tum-tum. Procurei o samba, que na minha imaginação poderia
estar lá, escondidinho, pronto para surgir triunfalmente na última meia hora de
baile. Que nada....
O que
vi foi a “baianalização” do carnaval e diversidade zero.
Zeca,
tô contigo e não abro!
P.S.:
quem me salvou do baixo astral musical foi ela, como sempre: dá-lhe, Furiosa!!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário