sábado, 16 de fevereiro de 2013

Cadê o samba?

Quantas vezes eu não ouvi a mesma ladainha: naquele tempo que era bom; agora, tudo acabou. Seja carnaval, futebol, música e por aí vai.
Essa questão repercutiu quando o sambista Zeca Pagodinho, acometido por uma certa dose de saudosismo, disse à Folha em 04/02/2013, que o carnaval acabou, que não fazem mais carnaval como antigamente, que carnaval bom mesmo era o do passado. Será que ele está certo?
Estive num baile de clube na segunda-feira de carnaval. Procurei o samba para brincar, mas não encontrei. Cadê o samba?, quis saber. Vi a diversidade sendo mandada para a Sibéria, sendo ignorada no meio daquele barulho infernal de guitarras e distorções, sendo relegada a segundo plano pelo axé ‒‒ a música baiana que toma conta de todos os palcos de bailes de carnaval. Até o rapper sul-coreano Psy eu encontrei. Poxa, num baile de carnaval?
Percebi claramente que a banda era performática, estava mais preocupada em fazer as coreografias, vestir-se de mulher maravilha e super-homem, tocar as músicas que tocam na rádio, e fazer as pessoas tirarem os pés do chão. Que coisa mais chata esse negócio de “tira o pé do chão!”. Já encheu.
Mas são novos tempos, e contra isso tudo não dá pra fazer nada, apenas esbravejar.
O carnaval acabou? O profeta do apocalipse Zeca Pagodinho tem razão? Um detalhe: tinha muitos jovens lá. E dançavam freneticamente.
Um coach famoso disse que realidade não existe. Existem percepções. E a do Zeca é correta, não duvide. Só que para aquela molecada esfuziante, o carnaval tava bombando. Se você perguntar se eles gostaram eles vão dizer que sim, que adoraram, principalmente quando a banda tocou o Psy. “Ah, aí sim ficou maneiro!” Se você perguntar para a vovozinha comendo pipoca, que estava esperando a banda tocar Beth Carvalho, ela vai dizer que o baile estava horrível.
Percepções, meu amigo. Só isso. É por essa razão que é um saco ouvir alguém dizer que determinado negócio estava ruim, horrível, uma porcaria, e outros adjetivos mais, como se aquela opinião fosse a mais sólida das verdades. Não, não é. Pode ser que seja pra ele, mas não é para muitos. É apenas a percepção de quem está descontente, insatisfeito com o que vê. Mas qualquer percepção, por mais razoável que seja, está longe de ser uma verdade absoluta, e não é uma realidade.
No entanto, que se danem os valores do coaching. Esbravejemos, amigos! Esbravejemos!
Carnaval sem samba não dá, né?!  Saudosismo ou percepção, o fato é que senti saudades da percussão, dos sambas-enredos ‒‒ novos ou velhos, dos sambistas, do bumbum paticumbum prugurundum, do tum-tum-tum-tum. Procurei o samba, que na minha imaginação poderia estar lá, escondidinho, pronto para surgir triunfalmente na última meia hora de baile. Que nada....
O que vi foi a “baianalização” do carnaval e diversidade zero.
Zeca, tô contigo e não abro!
P.S.: quem me salvou do baixo astral musical foi ela, como sempre: dá-lhe, Furiosa!!! 

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