sexta-feira, 19 de abril de 2013

Armando Salles, domingo de manhã

Ah, como eu gosto de perambular pela Armando Salles no domingo de manhã! Sei que tem paisagens mais interessantes pela cidade, mas a ruazinha que desemboca na Santa Teresinha, e que, digamos, serve apenas para compor elenco, como se diz no jargão do futebol, tem lá o seu charme.
É bom demais dar um pulinho na padaria da esquina e encontrar os amigos tomando cerveja nas primeiras horas do dia. Que café, que leite, que pãozinho, que nada! É cerveja e petisco. E tem coisa melhor?
Eu gosto do sossego, do som distante dos cachorros latindo, da velhinha que sai de casa vestida com o melhor que tem para gastar na missa, ou daqueles que preferem usar as primeiras horas do domingo para jogar água nas plantas, para uma boa caminhada, uma pedalada, ou apenas para bater papo ou comprar o jornal.
Quando o dia começa com um solzinho, então, muito melhor. A cidade dorme e as ruas celebram o sono dos desassossegados, você consegue tempo para olhar as pessoas, ouvir os sons, sentir os aromas, coisa que não fazemos mais.
No passado, funcionava ali um restaurante chamado Potenza. Minha mulher e eu iniciamos nosso namoro lá, e depois voltamos muitas vezes para saborear uma delícia de pintado na brasa regado a um bom vinho branco. O restaurante era bem frequentado, tinha um cardápio variado e delicioso, mas, por questões que desconhecemos, um dia cerrou as portas, e pintado na brasa nunca mais.
Um dia, eu estava passando por lá (uma manhã de carnaval; se a memória não me falha era uma segunda-feira, tão morta quanto o domingo),  e encontrei um grupo que chegava esfuziante a um dos edifícios com as fantasias na mão, conversando alegremente sobre o desfile.
Fiquei a imaginar as emoções que eles experimentaram na avenida. Pelo que ouvi, eles vinham de São Paulo. Lembrei-me da vez em que desfilei nessas terras, por uma escola de samba já extinta, a “Vai Quem Quer”, que surgiu do bloco tradicional do mesmo nome.
Fomos a primeira escola a desfilar. Antes, na casa de uns amigos ao lado da avenida, bebemos cerveja e comemos salsicha e outros aperitivos. No horário marcado, despencou do céu um aguaceiro que lavou a alma. E como foi bom.
Melhor ainda, o desfile. Pular e cantar o samba, sentir o ritmo da bateria, ver as pessoas sambando na arquibancada, acenando. O tempo passou a jato e quando demos conta o desfile tinha terminado. Uma pena. Deu uma vontade imensa de voltar, de repetir a experiência que renova o substrato da vida.
Essa vontade que eu via estampada nos olhos daquelas pessoas e suas fantasias. Que tiveram que cruzar a linha de chegada, que tiveram que tirar a fantasia do corpo, que tiveram que pegar o carro e voltar à cidade e para as suas casas. A vontade de que aquele momento não terminasse nunca.
“Amizade! Bota aqui uma gelada! E com espuma!”
Ah, como eu gosto de perambular pela Armando Salles no domingo de manhã!
P.S.: excepcionalmente publicada nesta sexta-feira

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