É bom demais dar um pulinho na padaria
da esquina e encontrar os amigos tomando cerveja nas primeiras horas do dia.
Que café, que leite, que pãozinho, que nada! É cerveja e petisco. E tem coisa
melhor?
Eu gosto do sossego, do som distante
dos cachorros latindo, da velhinha que sai de casa vestida com o melhor que tem
para gastar na missa, ou daqueles que preferem usar as primeiras horas do domingo
para jogar água nas plantas, para uma boa caminhada, uma pedalada, ou apenas
para bater papo ou comprar o jornal.
Quando o dia começa com um solzinho,
então, muito melhor. A cidade dorme e as ruas celebram o sono dos
desassossegados, você consegue tempo para olhar as pessoas, ouvir os sons,
sentir os aromas, coisa que não fazemos mais.
No passado, funcionava ali um
restaurante chamado Potenza. Minha mulher e eu iniciamos nosso namoro lá, e
depois voltamos muitas vezes para saborear uma delícia de pintado na brasa regado
a um bom vinho branco. O restaurante era bem frequentado, tinha um cardápio
variado e delicioso, mas, por questões que desconhecemos, um dia cerrou as
portas, e pintado na brasa nunca mais.
Um dia, eu estava passando por lá (uma
manhã de carnaval; se a memória não me falha era uma segunda-feira, tão morta quanto
o domingo), e encontrei um grupo que
chegava esfuziante a um dos edifícios com as fantasias na mão, conversando
alegremente sobre o desfile.
Fiquei a imaginar as emoções que eles experimentaram
na avenida. Pelo que ouvi, eles vinham de São Paulo. Lembrei-me da vez em que
desfilei nessas terras, por uma escola de samba já extinta, a “Vai Quem Quer”,
que surgiu do bloco tradicional do mesmo nome.
Fomos a primeira escola a desfilar.
Antes, na casa de uns amigos ao lado da avenida, bebemos cerveja e comemos
salsicha e outros aperitivos. No horário marcado, despencou do céu um aguaceiro
que lavou a alma. E como foi bom.
Melhor ainda, o desfile. Pular e cantar
o samba, sentir o ritmo da bateria, ver as pessoas sambando na arquibancada,
acenando. O tempo passou a jato e quando demos conta o desfile tinha terminado.
Uma pena. Deu uma vontade imensa de voltar, de repetir a experiência que renova
o substrato da vida.
Essa vontade que eu via estampada nos
olhos daquelas pessoas e suas fantasias. Que tiveram que cruzar a linha de
chegada, que tiveram que tirar a fantasia do corpo, que tiveram que pegar o
carro e voltar à cidade e para as suas casas. A vontade de que aquele momento não
terminasse nunca.
“Amizade! Bota aqui uma gelada! E com
espuma!”
Ah, como eu gosto de perambular pela
Armando Salles no domingo de manhã!
P.S.: excepcionalmente publicada nesta sexta-feira
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