sábado, 18 de janeiro de 2014

No mercado (II)

Como estava dizendo a semana passada (post anterior), o pastel do mercado, além de ser muito bom, me evoca os domingos na casa da minha avó. Antigamente, almoço de domingo era na casa da avó. Iam todos. Tios, primos, apareciam amigos e era uma festa. As brincadeiras, o bate-boca que tinha aos montes, o truco, a alegria de uma casa movimentada. Minha avó recebia a todos com genuína alegria. Ela mesma cozinhava, e seu tempero era único.
Mas voltando ao mercado, andar por lá em dia de domingo não é uma tarefa das mais aprazíveis. É uma aventura. Lembra do primeiro parágrafo desta crônica? Pois é. Apaga. Nada daquilo sobrevive às imediações de um mercado municipal em dia de domingo. Fui de carro e tão logo cheguei ao finalzinho da Humaitá para fazer o retorno da Afonso Moreira, o trânsito parou. Os estacionamentos lotados. Percebi que a própria rua tinha virado um estacionamento. Motoristas discutindo. Criança chorando. Gente impaciente. Buzinas. Depois de aguentar tudo isso, de convencer o proprietário do estacionamento onde costumeiramente paro o meu carro a me deixar entrar ‒‒ ele não queria me deixar entrar, aliás, não tinha como entrar, estava entupido!!! ‒‒, fui então encontrar o objeto daquele meu desejo inusitado: o famigerado pastel.
No caminho, um pequeno tumulto. Uma mulher berrava aos quatro ventos que tinha sido roubada. Estava chorando, pedindo ajuda. Uma rodinha de pessoas ao redor tentava ajudar. Perguntavam como era o ladrão. Ela dizia que nem tinha visto o sujeito. Quando percebeu, a bolsa estava aberta e a carteira tinha sumido. Outra mulher dizia que a gente devia tomar cuidado com a carteira. Que andar por ali era perigoso. Que ela já tinha sido roubada. Que a cunhada também. Que tinha de andar com a bolsa na frente. Que ali era pior que São Paulo. Automaticamente levei as mãos ao bolso de trás. Ela estava lá. Quietinha. Intocável. Pensei numa maneira de colocá-la pra frente, seguindo a cartilha da especialista em ações defensivas contra roubos e furtos. Não dava. Não tinha bolso na frente. Só atrás.
De repente, dois grandalhões fardados me interpelaram perguntando o que tinha acontecido. Falei rapidamente que a mulher tinha sido roubada. Eles abriram espaço no meio da rodinha e tentaram assumir o controle da situação. Ao pastel, então, amigos! Ao pastel! Não cheguei nem perto. Foi só andar uns poucos metros, tropecei num estúpido buraco e bati a cara no chão. Outra rodinha se formou. Agora, para socorrer o coitado que sozinho, tinha se esborrachado na calçada.
Não foi nada grave, vou logo dizendo. Não gaste seu tempo com preocupações. Senti que um dente se partiu. Meu tornozelo tinha virado uma cebola. Meu braço esquerdo ardia e sangrava um pouquinho por conta de alguns pequenos arranhões. Mas nada além disso. Estava consciente e sabia muito bem o que tinha acontecido. O buraco, eu apontei. Aquele desgraçado ali. Demonstrando grande gentileza, dois jovens rapazes me ajudaram, e eu, com um pouco de esforço ‒‒ confesso que estava meio zonzo ‒‒, consegui me aprumar na vertical. Tinha dificuldades para andar. Meu tornozelo estava inchado e eu sentia muita dor. Ouvi algumas pessoas pedindo para eu esperar, estavam telefonando para o serviço de resgate.
Perdão, meus queridos. Semana que vem ponho um ponto final nisso tudo.

 

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