Mas voltando ao mercado, andar por lá
em dia de domingo não é uma tarefa das mais aprazíveis. É uma aventura. Lembra
do primeiro parágrafo desta crônica? Pois é. Apaga. Nada daquilo sobrevive às
imediações de um mercado municipal em dia de domingo. Fui de carro e tão logo
cheguei ao finalzinho da Humaitá para fazer o retorno da Afonso Moreira, o
trânsito parou. Os estacionamentos lotados. Percebi que a própria rua tinha
virado um estacionamento. Motoristas discutindo. Criança chorando. Gente
impaciente. Buzinas. Depois de aguentar tudo isso, de convencer o proprietário
do estacionamento onde costumeiramente paro o meu carro a me deixar entrar ‒‒ ele não queria me
deixar entrar, aliás, não tinha como entrar, estava entupido!!!
‒‒, fui então encontrar o
objeto daquele meu desejo inusitado: o famigerado pastel.
No caminho, um pequeno tumulto. Uma
mulher berrava aos quatro ventos que tinha sido roubada. Estava chorando,
pedindo ajuda. Uma rodinha de pessoas ao redor tentava ajudar. Perguntavam como
era o ladrão. Ela dizia que nem tinha visto o sujeito. Quando percebeu, a bolsa
estava aberta e a carteira tinha sumido. Outra mulher dizia que a gente devia
tomar cuidado com a carteira. Que andar por ali era perigoso. Que ela já tinha
sido roubada. Que a cunhada também. Que tinha de andar com a bolsa na frente.
Que ali era pior que São Paulo. Automaticamente levei as mãos ao bolso de trás.
Ela estava lá. Quietinha. Intocável. Pensei numa maneira de colocá-la pra
frente, seguindo a cartilha da especialista em ações defensivas contra roubos e
furtos. Não dava. Não tinha bolso na frente. Só atrás.
De repente, dois grandalhões fardados
me interpelaram perguntando o que tinha acontecido. Falei rapidamente que a
mulher tinha sido roubada. Eles abriram espaço no meio da rodinha e tentaram
assumir o controle da situação. Ao pastel, então, amigos! Ao pastel! Não cheguei
nem perto. Foi só andar uns poucos metros, tropecei num estúpido buraco e bati
a cara no chão. Outra rodinha se formou. Agora, para socorrer o coitado que
sozinho, tinha se esborrachado na calçada.
Não foi nada grave, vou logo dizendo.
Não gaste seu tempo com preocupações. Senti que um dente se partiu. Meu
tornozelo tinha virado uma cebola. Meu braço esquerdo ardia e sangrava um
pouquinho por conta de alguns pequenos arranhões. Mas nada além disso. Estava
consciente e sabia muito bem o que tinha acontecido. O buraco, eu apontei.
Aquele desgraçado ali. Demonstrando grande gentileza, dois jovens rapazes me
ajudaram, e eu, com um pouco de esforço ‒‒ confesso que estava meio zonzo ‒‒, consegui me aprumar na vertical.
Tinha dificuldades para andar. Meu tornozelo estava inchado e eu sentia muita
dor. Ouvi algumas pessoas pedindo para eu esperar, estavam telefonando para o
serviço
de resgate.
Perdão, meus queridos. Semana que vem
ponho um ponto final nisso tudo.
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