Eu não entendia muito bem esse seu comportamento. Alguém que viveu no meio, de repente, desgosta de tudo? Mas acho que agora, 11 anos após a sua morte, eu começo a entendê-lo um pouco.
A
ficha caiu no domingo à tarde, depois de assistir ao primeiro tempo do jogo Santos
e Flamengo, pelo Campeonato Brasileiro de Futebol. Desliguei a tevê e pra lá só
retornei quando a Cultura apresentava o “Metrópolis”. Optei por uma arrumação
na minha bagunçada mesa de trabalho. Isso me deixou encabulado. Eu, hein? O que
tá acontecendo? Foi aí que comecei a entender.
Primeiro
a arrumação. Vamos lá. A verdade, meu amável leitor, é que eu me encontro no
caos. Esse é o problema. Você, não? Pois é... Eu, sim. Uma conta pra pagar, um
papel com a impressão de uma crônica do Veríssimo, o nome do médico indicado
por um amigo, uma anotação, livros, agenda, óculos escuros, papéis, enfim. Mas tudo
que eu quiser eu acho nesse caos da minha mesa. No meu caos. De repente, minha
mulher dá uma passadinha pelo escritório e deixa a mesa um brinco. Tudo
organizado e limpo. E eu não encontro mais nada. Pois num domingo à tarde,
depois de uma cachacinha, um almoço em família, largar o futebol pra arrumar
mesa de trabalho? Devo estar ficando
doido!
Mas
foi aí que a coisa começou a fazer sentido. Que futebol? Esse aí, meus camaradas?
Essas peladinhas? Nada! Futebol acabou. Não existe mais. Pelo menos por esses
campos daqui, porque Atlético e Real foi um jogaço! Não sei diagnosticar a raiz
do problema. Acho que um pouco tem a ver com a televisão, o negócio em si. A
televisão banalizou o futebol. Jogo toda quarta e domingo? Cansa! Até a
eternidade cansa, não? Lembro-me que antigamente não se passava jogo na tevê
com tanta frequência. Talvez por isso, o produto era mais interessante.
Lembro-me que os jogos no Rio, no domingo, eram às cinco da tarde. Maracanã
lotado. Fla-Flu. Uma beleza. Aí veio a tevê e mudou o horário. Não, não. No
Rio, jogo tem de ser às cinco. Tem mais a cara do Rio.
Mas
por virar negócio, aquele romantismo ingênuo tão característico das pelejas de
antigamente se perdeu. Veja como as pessoas se divertem com futebol amador.
Outro dia um jornalista disse que alguns jogos da rodada foram ofensas ao
futebol. Imagino que Garrincha, Sócrates, Telê Santana e tantos outros devam
estar se contorcendo.
Meu
pai, um visionário, já devia estar vendo tudo. Hoje, na hora de jogo, acho mais
interessante arrumar a mesa de trabalho. E sem remorso. Pelo menos a gente descobre preciosidades como
essa crônica deliciosa do Veríssimo sobre aniversário de casamento. É hilária.
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