Passei por um grupo que conversava no
Carioca. O assunto, claro, o jogo contra os alemães, mais à tardinha. A dúvida
era qual time Felipão escalaria, principalmente, quem entraria no lugar do
Neymar. O consenso geral: Scolari entraria com três volantes, o que
significaria futebol feio, mas efetivo. Na Copa de 94 ganhamos assim. Burocracia
no seu mais alto grau. Um futebol tipo Zinho-enceradeira, mas calculista e eficiente.
A bola não chegava à nossa área. Em compensação, as poucas que chegavam lá na
frente, o baixinho guardava. Assim vencemos, assim perdemos. Vencemos a Copa na
terra do Tio Sam; perdemos o futebol arte, plástico, cujo expoente máximo fora
a Seleção de 82.
Faltando alguns minutos para as cinco
me aprumei na frente da tevê. Puxei a poltrona pra mais perto, preparei um
tira-gosto, abri uma breja. O time que iria jogar se aquecia numa parte do
campo. O reserva, noutra. Escalei a equipe e percebi o arrojo do Scolari:
Bernard, o menino prodígio, com alegria nas pernas, iria pro jogo. O Brasil atacaria
os alemães. O jogo prometia. Um espetáculo se anunciava.
Passada quase uma semana do término da
Copa do Mundo no Brasil, e exatamente onze dias do fatídico 08-07-14, ainda
estamos juntando os cacos e nos perguntando: o que aconteceu? Acho que já me
permito algumas reflexões depois de dias de apoplexia.
O brasileiro, na temática futebol, tem
a mania de achar que o mundo gira em torno de seu umbigo. Nossa arrogância é
singular. Somos os melhores e, para isso, temos cinco Copas do Mundo para
justificar. Quando acontece uma tragédia dessas, entramos em parafuso, instala-se
o processo de caça às bruxas, multiplica-se nos midiáticos um repertório de
bobagens, há pouca, pouquíssima lucidez pra ser visitada.
É engraçado. É a primeira vez que vejo
a crônica esportiva, quase na sua totalidade, defender um Brasil retrancado. Cheguei
a ouvir comentários no sentido de que deveríamos jogar atrás, fechadinhos,
deixando apenas um jogador na frente, explorando o contra-ataque. Historicamente,
a crítica sempre defendeu o futebol arte, remetendo-se à Seleção de 82. E os
técnicos? Sempre pensaram e agiram no sentido contrário, que o diga Parreira em
94. Vejo uma curiosa inversão de papéis. Scolari quis ganhar jogando pra
frente. A imprensa defende que deveria jogar pra trás. O mundo do futebol está
ao contrário e ninguém reparou.
A Alemanha não ganhava nada havia 24
anos. Iniciou o trabalho com o Löw há 10, não ganhou nada nesse período. É
preciso tempo. O brasileiro tem paciência? Ou na primeira queda pediria a
cabeça do treinador?
Nada justifica o vexame. Precisamos
mudar a cultura do futebol. Aliar a nossa capacidade nata com organização e
conhecimento técnico e tático, que precisa ser importado. No mínimo,
atualizado. Para isso talvez precise de algo que o brasileiro, quando o assunto
é futebol, não tem: HUMILDADE. No
fatídico 08-07, ainda consegui ver o gaúcho juntando os cacos, enquanto eu
juntava os meus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário