Nessa tarde gloriosa estava eu em stand
by, sentado no sofá da sala, chupando umas mexericas. Stand by? É! Nem ligado
nem desligado. Estava disponível, digamos. Se estivesse desligado as palavras
do padre voariam. Mas, em “stand by”, elas entraram junto com os gominhos, e cá
estou falando delas. E confesso que penso igual. Em parte, é claro. Em parte. Não
que eu discorde de parte do que o padre falou. Eu apenas não tenho a mesma
ambição. Pra mim, encerrar a jornada como um velho já tá de bom tamanho.
Todas as fases da vida podem ser
maravilhosas se soubermos aproveitá-las. O padre está certíssimo. Porém, com o
avanço da idade, certas coisas podem se tornar um pouco mais complicadas. Normal.
De repente você cresce em sabedoria (se bem que nem todo mundo consegue evoluir
nesse quesito, he,he,he), mas tem aquele negócio de decadência física. Eu, por
exemplo. Outro dia tava pensando em como era cortar as unhas dos pés aos
dezoito. Quer saber? Nem lembro. Sinal que era fácil. Não tinha barriga. A
vista funcionava que era uma beleza.
Há um autor que explora muito bem essa
temática, o Philip Roth. Mas, ao contrário do padre, Philip detona a velhice.
Para ele, a velhice não é uma batalha, é um massacre. O
tempo transforma o corpo humano num armazém de aparelhos artificiais cuja
função será adiar o colapso. No livro Homem Comum, sua visão açodada inquieta: “Que
agora não era ele próprio mais nada, apenas um zero imóvel, aguardando com
raiva a bênção de um aniquilamento absoluto”.
Me perguntam se tenho medo da morte. Nada!
A gente não sente bulhufas quando dorme, sente? Você ronca, inadvertidamente
acerta o braço na sua mulher, baba, fala, uma porção de coisas, e não se dá
conta, dá? Você não tem a mínima ideia. Só se lembra que deitou para dormir, e que
acordou no dia seguinte. A morte é a mesma coisa, tipo sono pesado,
inconsciência pura, um nada absoluto. Agora, a decadência física que o Roth
trata sem dourar a pílula, e da qual não conseguir cortar as unhas dos pés é só
o começo, ah, isso me assusta. E tem aquele negócio da inexorabilidade. Você
pode fazer arranjozinhos se quiser, puxar um pedaço ali, outro lá, pagar para
que suguem suas adiposidades, tornar-se um velho saudável, malhar, correr,
alimentar-se direito, mas a garantia é zero.
Apesar de tudo isso aí, desse monstro
que uma hora vai te pegar, ainda assim é possível dizer que a juventude não é a
melhor fase da vida. Não! Não é!
P.S.: Excepcionalmente postado nesta sexta-feira
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