Descansando, na companhia de livros que
dormem serenamente à espera de alguém que os pegue e os leve para a cama
quentinha, assim sempre entendi as revistas que, guardadas as devidas
proporções, também poderiam executar dignamente este ofício, além de muitas
vezes servir de base a uma pesquisa séria, um trabalho escolar ou, no mínimo, como
companheiras para as horas solitárias perdidas num calor de um banheiro.
Certa vez, minha mulher queria entregar
algumas delas às tesouras, para ilustrar um trabalho escolar. Eu urrei como
urso brabo, dizendo que aquilo seria um crime contra a cultura, que onde já se
viu, que servissem ao matadouro as revistas de fofocas, que as minhas revistas
não, quês e quês e quês...
Mas hoje, repassando tudo, vendo a
coleção esquecida nesses tempos virtuais, nem mesmo cumprindo minimamente seu
papel de companheira de banheiro, chego à conclusão (mais uma vez, diga-se) que
minha mulher estava coberta de razão.
Nós homens não damos o braço a torcer,
mas a mulherada tem mais sabedoria no trato das coisas miúdas. Espere. Espere. Se
você entendeu isso, apague! De jeito nenhum eu quis dizer que elas não entendem
de coisa graúda, pelamordedeus, não é isso. Mas essas coisas práticas, do dia a
dia, de como organizar uma gaveta, a mesa do jantar, separar o material
reciclável, administrar uma casa e, por que não dizer, uma vida, ah, isso é com
elas! Nós homens não sabemos arrumar nem o bolso da nossa calça.
Vejam só: ninguém consegue guardar a bagagem
da viagem no porta-malas do carro com tanto jeito como a minha mulher. Olhando,
você pensa: “não cabe”. “Cabe!”, ela diz. E com jeitinho, ocupando todos os
espaços, mala pra cá, mala pra lá, isopor, bolsa com utensílios, comida, caixa
de cerveja, tudo vai tomando o seu lugar e, de repente, como num passe de
mágica, tudo está lá, organizado, limpo, firme.
Um dia eu me meti a esperto e guardei
as coisas. Coube tudo. Uma beleza. Mostrei pra ela com orgulho. Ela não gostou
muito do que viu, achou meio bagunçado, coisas apertadas, outras frouxas, mas
não mexeu. Logo no primeiro quilômetro começamos a ouvir um barulhinho de
isopor. Puts, é chato pra cacete! Fomos ouvindo até lá. Eu ouvi muito mais, é
claro.
Coisa que não tenho paciência é com
manual de instrução, bula de remédio, modo de usar etc... Dias desses peguei um
tubinho que veio com a tinta e só consegui ler a palavra “condicionador”. Não
tive dúvida. Mas estranhei, porque o negócio era oleoso, não espalhava, deixava
o cabelo duro. Minha mulher entrou no banheiro e, com paciência, se dispôs a
ler a caixinha. He, he, he, he. Não era condicionador. Era um óleo para usar apenas
algumas gotas, e depois do banho. Olhei para o tubinho e só tinha a metade...
“Filhotaaa!!! Quando precisar de
revista pra recortar, pode pegar as do papai, tá?!”
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