Tinha tosse. Uma tossinha seca. Não
tinha febre, muito menos febre alta. Não tinha dor. Não tinha nada! Mas tinha
pneumonia. E não era pequena. “É caso de internação. Não dá para tratar em
casa”. Ele me mostrou o raio-X. Um dos pulmões, pretinho. O outro, com aspecto
esbranquiçado. “Tá vendo. É catarro”.
O Super-Homem entrou em ação. “Não é
nada. Vamos tratar e pronto. No hospital há mais recursos, enfermeiros de todos
os lados, médicos, equipamentos, remédios. Vai ser melhor.” Ela chorando e eu
tentando convencer a mim e a ela: “minha mãe teve pneumonia. A Samantha teve. O
Felipe. Vai dar tudo certo”. Uma rocha falante.
Lá no quarto, viajando entre a cidade e
as serras, seu rostinho sempre me tomava, ainda que belíssimas fossem as
paisagens parisienses. Quando a Jaqueline, a fisioterapeuta, começou,
lembrei-me do Ronaldo na cabine de transmissão, chutando o vento quando a bola
caía no pé do atacante. Pois eu respirava. Uma. Duas. Prendia a respiração.
Levantava os braços. Ela me olhava e não entendia, afinal, a paciente era você!
Minhas caminhadas domingueiras nunca
foram melhores, pode apostar. Caminhar por entre jardins e calangos a seu lado foi
bacana e eu via seu sorriso e sua carinha corando de novo. E quando você desatava
a rir com minha pergunta démodé sobre o tal Po, se era um dos Teletubbies?
Quando eu iria imaginar que o Po era na verdade Pou, uma simples batata? Tá, um
alienígena.
Posso lhe ser franco? Agora posso, já
passou, né? E aproveito para desmitificar aquela história de pai herói, Super-Homem,
que é pau pra toda obra. Que super-herói que nada! Esse que vos fala tem as
mesmas fraquezas que qualquer ser humano. Viu, Johnny? É pra você também. Tem
medo. Sofre. Erra. Chora. Dentro do carro. Debaixo do chuveiro.
Chora porque não existe controle absoluto
sobre todas as coisas. A vida escorrega pelas nossas mãos como peixe se
debatendo. Não há garantias de nada. E esse é o caminho a seguir. Assim é a
vida. Não pensem que viver é um conto de fadas, e que tudo vai acontecer pra
vocês facinho, facinho. Nada disso. Quando ela lhes der uma rasteira, não
chorem apenas, mas aproveitem, pois ela estará lhes dando uma oportunidade de
afiar a espada.
A vida é complicada, e vocês precisam
saber disso. Cheia de tormentas, que a gente quer bem longe. Não quer nem
pensar. Não adianta! Precisamos de ferramental. É isso. Guardem bem essa
palavrinha: ferramental. Não adianta querer, pedir pra Deus, pra Alá, pra Buda,
pra quem quer que seja, uma vida livre de percalços. Isso não existe. Eles não
vão desaparecer da nossa frente. Estão em tudo quanto é lugar. Você pode estar
aqui ou em Amsterdam. Busquem ferramental emocional para vivenciar seus
problemas, o sofrimento, a dor, a doença, as perdas.
Foi essa rocha (pra você), despreparada,
que teve de encarar seu probleminha. Cinco dias, filhota. E você de volta.
Pareceu uma eternidade.
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