sábado, 9 de novembro de 2013

Do nada

“Não deixe o leite derramar...” Eu já ouvi muitas vezes esta frase. Mas agora ela simplesmente brotou. Brotou, assim do nada. Quando eu tava pensando no que esperar desse timinho que o Palmeiras tem, ela veio. Tomou conta.
Ferver um litro de leite é um teste de paciência. Não adianta olhar de minuto em minuto pra ver se já formou nata, se tá subindo, se tá na hora de desligar. Nessas horas, ele parece que quer brincar com você, testar o seu limite, porque passa um tempão e você olha pro fundo da leiteira, e ele tá lá, lisinho, lisinho, que nem bumbum de neném. Agora, deixe-o lá, deixe. Vá fazer outras coisas pra ganhar o dia. Passe manteiga no pão, esprema a laranja, coe o café, vá ao banheiro. Faça isso tudo, faça. Não mais que dois minutinhos e pronto.
Continuei pensando: se ambas as situações fossem colocadas à luz da ciência, se um técnico de um desses institutos que avaliam as qualidades de nossas máquinas lhe fizesse uma visitinha, a fim de testar a qualidade do seu fogo, e nesse teste usasse dentre outras, de uma leiteira cheia de leite, não tenho dúvida nenhuma em afirmar que suas medições comprovariam que o tempo gasto na fervura, considerando as duas situações, seria exatamente igual. Bom, então o problema não é do leite?
Talvez fosse interessante chamar um outro técnico a fim de examinar a máquina humana, para tentar descobrir o que se passa com ela. Não sei se seria uma boa ideia. Se ele fosse um profissional sério, talvez abandonasse a profissão ao mergulhar no mar de sombras que é esse tal de humano. Porém, como estamos trabalhando no mundo das hipóteses, dispenso, por ora, e com todo o respeito que ele deva merecer, o senhor técnico, e mesmo sem diploma, faço eu mesmo o diagnóstico.
A máquina sofre de uma síndrome muito comum que, embora não tenha galgado ainda o foco de preocupação da Organização Mundial da Saúde, dá mais que chuchu na cerca: a “síndrome do polvo”. Já ouviu falar? Não? O Homo sapiens não se contenta em fazer uma coisa de cada vez. Como tem muitos braços, quer fazer tudo o que pode, no limite de suas potencialidades, e ao mesmo tempo. E se acostumou com isso. Você acha que uma máquina dessas, acostumada a viver lá na frente, ou lá atrás, mas nunca no lugar em que realmente está, produto mal-acabado de uma sociedade desumana e doente, vai se render a uma simples leiteira, e perder dois minutinhos de seu precioso tempo, não fazendo nada?
Como não sou desse jeito, graças a Deus, agradeci mais uma vez ao Senhor por me dar de presente neste momento, uma leiteira pra pensar. Assim, do nada. Pelo menos tirei da cabeça esse timinho que ultimamente só me dá tristeza.
P.S.: esta crônica foi escrita após a derrota do Palmeiras para o Sport no primeiro turno do Campeonato Brasileiro da Série B. Quase foi apagada, considerando que depois daquele jogo o Palmeiras se recuperou e triturou os seus adversários. Foi um passeio, vai. Flanamos. E voltamos para o nosso lugar, de onde nunca deveríamos ter saído. Dá-lhe, Palestra!!!

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