Terça de carnaval lesa. Ressaca das
brabas. Nada que apague as lembranças da festinha noite anterior na casa do Z.M.
e da R. De repente, estávamos revivendo nossos corpos suando a cântaros no Xirê
Xirê do Anhembi. De repente, estávamos ladeando o capelão do padre Marcelo.
Confesso que olhando aquilo derrapei numa imagem tosca, mareada, bem diferente
daquela imagem de moço fininho que apareceu em rede nacional atraindo centenas
de fiéis e que não precisava de alface e hambúrgueres para ser. No rádio do
carro, o samba ia correndo e o refrão se cristalizava em nossas mentes loucas
por uma passarela. Z.M. ia me mostrando tudo e quando dei por mim, ele já
estacionava o carro: “Pronto. A quadra é ali!”.
Grajaú. Tínhamos que encontrar um certo
V. Três fantasias. As nossas. O nosso passaporte. “É um cara alto. De chapéu
branco”. A informação não ajudava muito. Naquele Grajaú respirando carnaval, não
faltavam homens altos com chapéu branco na cabeça. V. encontrado, a surpresa: “Poxa!
Onde vou arrumar três fantasias agora?”.
Já antevendo vinagrar uma festa que nem
bem nascia em nossas mentes, e moribunda, já tomava assento na UTI, Z.M. deu a
última cartada: “Vou ligar pra S.” Explico. Pelo que entendi do imbróglio a
situação era essa: como faz todos os anos, Z.M. havia combinado com S., pegaria
as fantasias como sempre, e tava tudo certo. Mas na última hora, S. saiu da
escola e passou uma lista para V. com o nome de alguns integrantes da ala. Isso
de fato aconteceu. No entanto, segundo V., a lista chegou tarde. Eu tava
adorando aquilo. Preocupação? Nenhuma! Medo de ficar sem carnaval? Nadinha. No
fundo eu sabia que naquela madrugada de domingo pra segunda, nossos pés estariam
no Anhembi de qualquer jeito, nem que fossem na ala das baianas. Na verdade, eu
gostava de estar ali, a vibração pulsante da brasilidade, o repique do tambor ao
sabor de uma coca com pinga.
Lembrando a história com os demais
comensais, peguei mais cerveja, um pedaço de cuscuz da R. que estava um luxo, e
P.R. veio com essa: “Seu Zizinho mandou não mexer na jabuticabeira. Ele fez um
trato com a gente: ninguém rouba as jabuticabas; ele dá uma parte pra gente.
Chamei os camaradas: ‘Olha aqui, ninguém mexe nas jabuticabas do seu Zizinho.
Quando ele for apanhar, ele vai dar uma parte pra nós’. Seu Zizinho pelou a
jabuticabeira e nós não vimos umazinha sequer. Quando encontrei com ele, eu
cobrei: ‘Poxa, seu Zizinho, cadê a nossa parte?’. Ele veio com grosseria: ‘Você
acha que eu vou dar jabuticaba pra essa molecada de rua? Eu tenho filhos! Eu
dou pros meus filhos! Vocês são um bando de vagabundos!”. P.R. arrematou:
“Sergio, eu naquela época, apesar da pouca idade, era um menino justo. É assim?
Tá. Tudo bem. Reuni a rapaziada. Peguei o serrote do vô. De madrugada, pusemos
abaixo a jabuticabeira do seu Zizinho.”
Minha cabeça dói... Ah, preciso de um
analgésico...
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