Mas não é nada disso que quero falar,
meu amigo. Nem sei por que comecei essa história toda. O que quero falar mesmo
é sobre a renovação da minha carteira de motorista, assunto muito, mas muito
mais interessante que qualquer conversa de botequim.
Minha primeira habilitação, tirada aos
dezoito, durou que foi uma beleza. Depois que fiz quarenta é que tive que
entrar nessa de renovação a cada cinco anos. A primeira renovação demandou até
provinha. A de agora, não. Nada que um belo de um Poupatempo não desse jeito. Fui
pra lá meio desconfiado. Sacumé, né? Era a primeira vez que utilizava os
serviços dessa invenção “primeira classe” da burocracia estatal. Que assusta, pois
os serviços do Estado estão armados de burocracia até os dentes. E a
desconfiança só aumentou vendo aquele mundaréu em filas e cadeiras. Me dirigi à
mocinha bem maquiada que me indicou a fila tal; sete minutos depois, passava
pela triagem, recebia uma senha e seguia em direção ao Detran.
Primeiro a documentação. Coisa rápida. Eficiente.
Mais uns minutinhos de espera e a foto. Mal acomodado num cubículo, a moça me
manda tirar os óculos e endireitar os ombros. “Pera aí! Como tirar os óculos?” “Precisa
tirar, senhor” “Você está me dizendo que vou ter de ficar cinco anos com a foto
de um sujeito que não tem nada a ver comigo? Óculos fazem parte da
personalidade, sabia?” “Precisa tirar, senhor” Até agora não entendo. Tiramos
ambos: eu, os óculos; ela, a foto. Exame médico. Rápido. Pressão arterial.
Letrinhas miúdas. “O senhor vai até o banco, paga as taxas e retorna com os
comprovantes” Sabia. Agora a coisa pega. Banco. Fila. Nada! Pra minha surpresa,
a agência bancária do Poupatempo estava vazia. Pagamento rápido. O fato é que quarenta
e cinco minutos depois de ter entrado, eu saía. E com o protocolo na mão, para
retirar a CNH dia seguinte, olha que beleza.
O que pegou mesmo foi depois. Não
achava o protocolo. Como pode? Revirei tudo. Casa. Trabalho. Carro. Carteira. Nada.
Só ouvindo as piadinhas dos colegas, coisa da idade, esquecimento, normal, etcetera
e tal. Fui com a cara e com a coragem, levando a CNH antiga. Quando a tiro da
carteira, tava lá, carimbado no verso: “retirar dia 09, após às 10:00 horas”.
Pior que perder o protocolo é achar que
perdeu o protocolo que você nunca recebeu. Como pode alguém perder uma coisa
que nunca teve? Se nunca teve, não pode perder. E se mesmo assim acha que
perdeu, é porque em algum momento teve ou, porque a idade avança mesmo e seus
amigos estão certos...
Muito boa!
ResponderExcluirMuito boa!
ResponderExcluirMuito boa!
ResponderExcluirAdorei o blog!! Teria muito a comentar, medo da morte, o prazo da CNH q não dura quase mais nada, cervas com amigos, banco, fila... mas aí vc poetizou cada tema, cada burocracia diária majestosamente.
ResponderExcluirMeus parabéns pelo blog. Muito bom!
Valeu meus queridos! Lu, e o que não é a crônica senão uma lente de aumento nesses fatos singelos do nosso dia. Agora, cervas com os amigos é tudo de bom, não? Ainda mais embaladas por um bom papo. Venha sempre, Lu, enriquecer o blog com seus comentários inteligentes. Abços!
ResponderExcluir