Como você deve saber, no último mês
passei às turras com os preparativos do lançamento do meu livro. Deu trabalho.
Porém, um trabalho prazeroso, como deve ser todo trabalho. Quem faz o que gosta
dispensa aposentadoria. Eu, por exemplo. Se conseguisse viver de meus textos seria
uma beleza. Escreveria até morrer. Mas confesso que não via a hora de chegar o
tão esperado dia. Ansiedade? Nada! Não era tanto pelo evento. Estava sim incomodado
com a simples possibilidade, cada vez mais real, desse insetozinho sem-vergonha
vir bater à porta da minha casa. Já pensou? Eu largado na modorrência, entregue
a cuidados terapêuticos, me abastecendo de soro o dia todo e sofrendo das
terríveis dores corporais, que dizem ser intensas!? E mais! Noite de
autógrafos. O autor não veio. Está dengoso. Eu, hein?
Aliás, adivinhe o que mais ouvi na
noite de lançamento? “Já fez filhos?” “Já!” “Plantou árvore?” “Já!” “Então já
posso morrer?”, eu indagava em tom jocoso. E dizia: “Há como desplantar, meu
amigo? Sim! Desplantar! Pois vou já! Lá em Cunha. Tratar de dar cabo da
pobrezinha”. Bobagens, caro leitor. Bobagens.
Mas estou com meu amigo Lucas: o homem
perdeu a guerra. Pois é. Um bostinha de um mosquito tolo. Temos acesso a um
tesouro a que todos chamam de conhecimento. Sabemos como evitar a proliferação.
Sabemos o que fazer. E o que não fazer. E mesmo assim, não somos capazes de nos
organizar minimamente a ponto de evitar essa doença de terceiro mundo.
Isso daria um belo filme hollywoodiano,
não? Um desses Spielbergs americanos traria um quê de Independence Day ao
curta. Acho que ficaria bom, embora o perigo não estivesse entregue aos feinhos
alienígenas, mas a simples mosquitos de água de sarjeta.
Não se trata de chafurdar na arrogância
humana, meu amável leitor. Quando Cortella fala que você é um entre 6,4 bilhões
de indivíduos, pertencente a uma única espécie, entre outras três milhões de
espécies classificadas, que vive num planetinha que gira em torno de uma
estrelinha, que é uma entre 100 bilhões de estrelas que compõem uma galáxia,
que é uma entre outras 200 bilhões de galáxias num dos universos possíveis e
que vai desaparecer (*), ele simplesmente está dizendo isso: que você não vale
nada.
Que a gente não vale nada, tudo bem, a
cada dia que passa o homem com seus atos dá provas disso. Mas sucumbir diante
de um mosquito? Ah, peraí...
* Qual a tua obra? Mario Sergio
Cortella, pg.26.
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