sábado, 2 de agosto de 2014

Porto

Recomendações: 1) responsa, capisce? Responsa sim, meu camarada! Aproveite bem os seus dias, mas com responsabilidade, o que significa antes de tudo, pesar as consequências dos seus atos; 2) evite os excessos; se tem uma palavrinha mágica aí pra resumir isso tudo, essa palavrinha se chama equilíbrio; em tudo, sacou? Bebida, farra, mulher... 3) cuidado com a alimentação; não vá querer comer tudo o que vir pela frente; o tempero de lá é diferente do tempero daqui; nos primeiros dias coma o básico, basicão mesmo; cuidado com a gordura, os molhos; depois que estiver mais acostumado, aí sim você libera geral, mas vai com calma; 4) e o mais importante: faça tudo que tiver vontade, mas lembre-se que não é o fim do mundo; você terá muita coisa ainda pra viver. Ah, e chegando lá me mande uma mensagem avisando que chegou, ok?

Aproveito o instante, que vai durar alguns minutos entre o deslocamento de casa até o local marcado para a saída, na noite morna de um sábado julino, para rezar o terço pro menino. Meu pequeno gigante militar vai ouvindo tudo com atenção, balançando a cabeça que sim, concordando com tudo ipsis literis, já sabendo eu que a cabeça do bichinho já flana pelas ruas de Porto Seguro, no show do MC Guimê, numa noite em que se respira aventura e poder.

No meu tempo não tinha dessas coisas, não! Comemoração de formatura era numa chacrinha emprestada pelo pai de alguém, um churras básico, futebolzinho e olhe lá. Isso se a coisa toda não se resumisse a um encontro em alguma pizzaria da cidade. Sem contar que a comemoração era no final do ano. Claro! Eu nunca vi comemorar a formatura em julho! É igual aquela história de lançamento de carro. Lança o carro modelo 2015 em maio de 2014.

“E aí, véio?”. Eles chegam e se cumprimentam. Ficam só dando um bisu no movimento, meio de longe, tirando sarro das bagagens alheias, curtindo aquele momento que sabem único de toda uma existência. Não querem ir tomar seus assentos no ônibus. Num dado momento, já um tanto incomodada, uma mãe intervém dizendo que já estava mais que no horário e que seria melhor que eles fossem para o ônibus. “Nós já vamos. Só tamo esperando o Pedrinho”. Desculpa esfarrapada, penso eu. Naquela agitação toda, com certeza o Pedrinho já estava sentado em seu lugar, dando altas gargalhadas sobre tudo o que acontece à sua volta.

Passa o tempo e os grandes homens, que sabem tudo, enfim tomam a esperada decisão. Cada qual procura o pai, ou a mãe, para deixar-se cair num abraço gostoso de despedida, receber um beijo amoroso e transmissor de bons fluidos e boas energias. O meu segue a cartilha. “Vai com Deus, meu filho! E se cuide, hein?”.

Meu pequeno gigante militar partiu. Partiu pra Porto Seguro, deixando o dele aqui, porque lá, de porto seguro não vai ter nada. Dez baladas. Duas micaretas. Um churrasco com pagode. Shows com MC Guimê e MC Catra. Hotel com mais de quinhentos jovens sedentos de mundo numa semaninha básica sem os pais. Outro dia era eu recebendo as recomendações. Mudaram-se os papéis, mas até aí tudo bem. O problema é o mundo pra matar a sede dessa meninada: mudou tanto!

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