sábado, 9 de agosto de 2014

Redução de jornada

A redução da jornada de trabalho é um assunto que vira e mexe estampa os bons jornais. Normalmente são os sindicatos que defendem arduamente a redução da jornada sem redução de salários, como forma de gerar mais empregos.

Padre Alberico, que narrou a história do sacerdote Antônio Miguel, no livro “Confidências de um sacerdote”, é um dos defensores dessa redução. Para ele, a redução da jornada de trabalho é uma medida positiva porque beneficia o ser humano, porque vai propiciar ao trabalhador um tempo maior para o descanso, o lazer, a vida em família.

Segundo ele, a política deve ser praticada com os olhos voltados para o ser humano. “É óbvio que a geração de novos empregos, em linhas gerais, também quer dizer isso, mas você não pode simplesmente julgar a ação política sob uma única perspectiva. Seria reduzir demais o seu impacto. Quando houve a diminuição de jornada de trabalho na França, e os novos postos de trabalho não vieram, a crítica partiu de forma pesada para cima da lei como se ela tivesse fracassado. Em absoluto. Veja a questão sob a perspectiva humanista. O homem ganhou um tempo a mais para estar com a família, para o lazer ou mesmo para estudar, fazer cursos, adquirir novos conhecimentos. O fim de qualquer ação política deve ser propiciar melhores condições de vida para as pessoas”.

Ainda segundo Alberico, “no Brasil, a redução da jornada para 40 horas semanais, e gradativamente, chegar a 35, é perfeita. O trabalhador brasileiro trabalha muito, nossa carga horária é uma das maiores do mundo, simplesmente porque existem as famigeradas horas extras. Não se trabalham 44 horas semanais, mas muito mais. É possível porque essa diminuição de jornada sem redução de salário é perfeitamente assimilável pelas empresas, que nas últimas décadas lucraram em demasia”.

Mas acredite, leitor, que outro dia, abrindo “O Globo”, vi que o bilionário Carlos Slim, proprietário da Telmex, gigante mexicana de telecomunicações, que alterna com Bill Gates o posto de homem mais rico do mundo, está defendendo uma semana de trabalho de três dias, “para reduzir os índices de desemprego e, de quebra, permitir que as pessoas inovem mais, além de passar mais tempo com a família. Neste modelo, a jornada de trabalho seria de 11 horas por dia”.

Pelo que vejo na notícia, a proposta não é nova. Em junho de 2012, em uma conferência na sede da ONU, em Genebra, o magnata já tinha defendido a jornada de três dias por semana, com “10 ou 11 horas, para ter livres os outros quatro dias e dedicá-los à família, a inovar, a cultivar-se o criar”.

Ainda consta da notícia que já existem programas que combinam uma redução de horas trabalhadas com subsídios do Estado. “Na Alemanha, por exemplo, o governo lançou um sistema chamado Kurzarbeit, pelo qual a jornada é reduzida em empresas que solicitam a mudança devido a problemas econômicos. O salário pago pela companhia aos trabalhadores diminui, e o Estado paga uma parte — mas não a totalidade — da diferença”.

Sabe que gostei da expressão: “cultivar-se o criar”? Muito boa, não? O trabalho deve dignificar, meu jovem, e não ser uma violência, um assalto à mão armada; roubar do ser humano o que ele tem de melhor: o seu próprio existir. O homem larga filhos, família, lazer, larga tudo, tudo; horas preciosas são comercializadas a preços módicos. Não sobra tempo pra nada. Um verdadeiro massacre.

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