sábado, 8 de dezembro de 2012

Que calorão!


Se a civilização humana não fizer alguma coisa logo, vai dar um exemplo formidável de burrice total e absoluta. E depois somos nós os animais dotados de inteligência. Começo a duvidar... 

Que calor é esse, meu amigo? Onde nós vamos parar? Será que eu ainda vou estar vivo para ver as tragédias que cavamos? A explosão de cabeças e miolos, corpos e peles, arrastados por chuvas torrenciais que ano a ano despencam com violência nos pisos lisos e escuros que o homem constrói, ate entupir, sem grande esforço, nossas já congestionadas bocas de lobo?
Credo... Que verborragia catastrófica...
Mas, sinceramente, puxando pelo baú, não encontro tanto calor assim.
No verão, lembro que eu saía na rua e o asfalto queimava o pé. Eu tinha mania de andar descalço. Aliás, quem não tinha naquela época, hein? O pé, por conta disso, ganhava uma casca dura e protetora, um escudo, sólido, que nem caco de vidro, o inimigo número um dos pés descalços, chegava a assustar.
Está certo que do baú eu também tirei um rasgão no meio dos dedos, nem sabia o que era, mas eu saía descalço e do rasgo minava aquele líquido vermelho que até hoje, nesta era de modernidade artificial, assusta os mais sensíveis. Resultado: adeus à sensação de liberdade, o pisar na terra nua, na grama molhada, na poça barrenta. Meu pé ganhou um kichute (lembra do kichute?) e pele de moça.
Quando comecei a trabalhar, meu corpo foi vestido de calça comprida, sapato, meias e camisa de botão. Adeus, calção. Peitoral nu. Vadiagem. Andava uma meia hora pisando duro e desengonçado – demorei pra me adaptar aos sapatos. Chegava no trabalho suando, o ventiladorzinho morrendo de trabalhar. Mas não... não... O calor não era assim...
Casei em janeiro. Cismei que queria um produto pra passar no rosto e conter o suor. Já pensou, no altar, aquela cara cromada? Sem opções, meti um talco que não decepcionou. E mesmo em janeiro, mesmo sendo talvez o mês mais quente do ano, não senti tanto calor.
Talvez em um único lugar eu tenha sentido calor parecido: Ubatuba. No verão. Um calor abafado, insuportável, daqueles que a gente não quer deixar o chuveiro. Mas aí não conta. Ubatuba é Ubatuba. Quente mesmo, principalmente no verão.
Mas essa sensação de que as temperaturas estão subindo não é só minha: todo mundo tá percebendo. Inclusive a ciência.
Um grupo de cientistas que integram o projeto Berkeley Earth Surface, liderado pelo físico americano Richard Muller, da Universidade da Califórnia, concluiu recentemente que de fato a Terra está esquentando muito rápido: nos últimos 250 anos a temperatura aumentou 1,5 grau. Pode parecer, mas isso não é pouco. E a causa? Alguém adivinha? Os gases poluentes emitidos pela atividade humana.
O trabalho é idôneo. Inclusive Richard era um dos muitos cientistas céticos que tem por aí, que defendem que o aquecimento nada tem a ver com a participação humana. Muitos acham que o planeta está esquentando porque vivemos em uma era interglacial, de aquecimento mesmo.
Mas ele fez uma pesquisa séria, coletou dados de 39 mil estações de medições meteorológicas durante dois anos, e concluiu o que a sensibilidade de qualquer batuta já indicava: está cada vez mais quente. Eu sei, as pessoas na rua sabem, todo mundo sabe.
Se a civilização humana não fizer alguma coisa logo, vai dar um exemplo formidável de burrice total e absoluta. E depois somos nós os animais dotados de inteligência. Começo a duvidar...
Encontro uns conhecidos meus que me param na rua e se dizem preocupados com a chegada do verão. Sim, porque se na primavera estamos com esse calorão, imagina no verão!
Eu faço uma troça. Esquenta, não! – digo. Esquenta, não!  No verão refresca. E vá se acostumando! No outono esfria. No inverno esquenta. Na primavera ferve... Está tudo de cabeça pra baixo...

 

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