sábado, 23 de março de 2013

A igreja não funciona mais

Nos idos dos anos oitenta, tinha lá na Santa Teresinha uns coroinhas da pesada. O saudoso monsenhor Teófilo os chamava de “fuzarquinhas”. Eu gostava do apelido, mas na época, nem sabia o que era.
Como não sabia o que era mictório. Numa tarde de sábado, chegando à sacristia com a batina cinza debaixo dos braços, fui interpelado por um senhor engravatado me perguntando onde ficava o mictório. Eu pensei, pensei, e soltei o verbo com a mais inocente sinceridade: “aqui não tem isso, não!!!”. Ele ficou nervoso: “Banheiro!!! Onde fica o banheiro!!!”
Mania das pessoas suavizarem as expressões. São os eufemistas de plantão! Falasse logo pro pivete de dez anos banheiro, e não mictório, ora bolas!!! O cara devia ter merda na cabeça, e sem eufemismos, certo???
Mas, voltando aos coroinhas, eles eram de matar mesmo. Ninguém aguentava, só o Teófilo. Uma vez jogaram um aviãozinho de papel e ele ficou pendurado no altar; outra, jogaram uma bola de tênis nos vitrais, que se estilhaçaram; no sermão, a gente copiava o Romildo, na época seminarista, e tirava uns bons cochilos; muitas vezes brigávamos em pleno altar, na hora da celebração, e eu já vi muito coroinha dando porrada no estômago do colega antes de comungar. Ah, era uma farra...
Aquilo que era coroinha de verdade, com os defeitos próprios da idade, não esses anjinhos perfeitos que a gente vê por aí. 
Dali muitos foram para o seminário ‒‒ padre mesmo só brotou um ‒‒, foram comandar a liturgia, as pastorais, o grupo de jovens, foram tocar violão na missa, e hoje são respeitados pais de família, professores, servidores públicos, atores, metalúrgicos, mergulhadores, dançarinos; brotou até um pastor.
Naquele tempo a gente assistia a muita missa. Meu Deus, era missa sábado, domingo de manhã, à tarde, à noite, isso quando não aparecíamos por lá em dia de semana. E a gente gostava, mas gostava mesmo!!! Até hoje eu tenho decoradas as palavras rituais. Também, acho que esse mesmo texto da liturgia, salvo algumas alteraçõezinhas para satisfazer os interesses da mulherada, perdura até hoje nas celebrações.
 O legal era a missa com padre que falava bem. Falar bem é falar linguagem inteligível e com emoção. E falar bem não é tão difícil assim, tem que ter vontade de falar para as pessoas entenderem. Senão, é o mesmo que dizer mictório para um pivete de dez anos nos anos oitenta. Hã?
E até hoje tem cada sermãozinho desgraçado. Não é sempre que a gente encontra um Fred por aí!  Outro dia eu peguei uma missa com o Carmo. Ah, não assisto mais missa com ele. Se ele entra por um lado eu saio pelo outro. Ô, homem pra falar!!! Ele começou dizendo pra gente não se preocupar, que ele tinha visita em casa e por isso falaria pouco. Ufa!, pensei. Falou 55 minutos!!! Isso porque iria falar pouco, santa mãe de Deus!!!
Mas esse modelo de missa já deu o que tinha de dar. Não serve mais. Tem de mudar! Eu cansei. Chega de hipocrisia de minha parte. Ficar lá escutando aquele blá-blá-blá banzé pra nada. Chega de intermediários.
“O nosso jeito de fazer missa, de fazer evangelização, essa nova evangelização precisa de novos métodos”. “Hoje, a igreja precisa, de fato, de uma reforma em todas as suas estruturas”. “A igreja não funciona mais” (D. Claudio Hummes, em entrevista à Folha)
Discutir o fim do celibato, a ordenação de mulheres, o enxugamento patrimonial em prol de ações humanitárias, por exemplo.
Ainda bem que D. Claudio Hummes, o cardeal brasileiro mais próximo do novo papa, pensa assim.
Há uma luz no fim do túnel. Acho...

2 comentários:

  1. Geia, valeu, como tudo que você escreve e temos sempre apreciado muito, e me bateu uma saudade e comecei a rir com as lembranças, é a pura verdade, valeu muito para todos nós e nesse tempo recebemos um grande presente de Deus, que é nossa amizade, posso dizer que tive infância, adolescência e juventude e em tudo fui muito feliz, quantos jovens podem dizer o mesmo que nós? Quanto as renovações, todos sofremos o mesmo fenômeno católicos e evangélicos vemos a igreja num todo em grande decadência, sinto-me envergonhado com esse evangelho mastigado que tem crescido nestas ultimas décadas, a igreja se tornou um grande negócio onde em troca de um milagre se ganha muito dinheiro, lhe garanto que é pior que o cansativo sermão de alguns pregadores ou que muitos blá,blá,bás, rsrsrs. Valeu amigo quero te parabenizar pelo blog, que irá crescer ainda mais, um abraço.

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  2. Caro amigo, Darci

    Sábias palavras!!!

    Gde abraço!!!

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Comunicado

O autor informa que suas crônicas estão sendo publicadas com exclusividade na página Crônica do Dia ( www.cronicadodia.com.br ). Convida...