Agora,
insuperável mesmo está “Guerra dos Sexos”. Você que é noveleiro de plantão deve
saber que se trata de um remake. No passado, Paulo Autran e Fernanda Montenegro
interpretaram os papéis de Charlô e Otávio. Agora, quem os representa, não com
menos competência, é o impagável Tony Ramos e a extraordinária Irene Ravache.
A
novela é muito divertida, e chama a atenção a leveza com que Charlô e Otávio
levam a vida, uma leveza, digamos, quase infantil, tão rara de se ver nos dias
de hoje.
A
vida ultimamente anda séria demais. As pessoas estão muito chatas, carrancudas,
pesadas. Qualquer problema, por menor que seja, é motivo para se arrancar os
cabelos. É só trabalhar, trabalhar, trabalhar, ganhar dinheiro, ter vida social,
consumir, consumir e consumir. Os sonhos da infância ficaram pelo caminho e a
gente nem percebeu. Poucas são as pessoas que têm prazer no que fazem, talvez
por isso a vida se tornou mais feia.
O
que você quer ser quando crescer? Bombeiro, jogador de futebol, cantor, médico,
aeromoça, professor, piloto de avião. Tinha cada uma, mas as respostas eram baseadas
acima de tudo no prazer, na satisfação que aquela profissão poderia dar. Mas
saíram advogados, servidores públicos, padres, vendedores, metalúrgicos, ou
qualquer outro profissional de qualquer outra área chata que tem por aí, menos
o que se queria ser de verdade. A vida, com suas exigências, acabou levando o
sujeito para determinado lado, e ele, nossa!, nem percebeu, talvez nem perceba
ainda.
Até
o futebol anda sério! Se o jogador dá uma de Garrincha, com dribles
desconcertantes e jogadas inesperadas, é quebrado pelos adversários. O cara que
sai para comemorar o gol com a torcida leva cartão amarelo. E tirar a camisa,
então, nem pensar. Cadê a malandragem, o bom humor, a irreverência dos
brasileiros? Os homens sérios e de mal com a vida estão acabando com tudo.
Proibiram
o cigarro nos ambientes públicos. Proibiram a gente de ir a um bom restaurante
e beber. Proibiram a bebida nos estádios. Proibiram inclusive de levar bandeira
ou até mesmo uma inocente garrafinha de água num jogo de futebol. Devíamos dizer
para esses caras: parem de proibir! Daqui a pouco a gente não vai poder sair de
casa!
Para
os intelectuais de plantão, assistir novela é a expressão mais bojuda da perda
de tempo. Feito avarento, conto os meus minutos, cada segundo que se esvai...
Mas diversão e entretenimento fazem tão bem à vida... Por que tudo tem que
ensinar?
Se
assistir “Guerra dos Sexos” ensina alguma coisa, eu não sei. Mas que diverte,
ah, diverte! Não quer assistir, ótimo, não assista! Não quer sair por aí brigando
com o sexo oposto, como fazem Otávio e Charlô, certíssimo, faz muito bem! Mas
que a leveza deles poderia muito bem colorir a sua vida tão séria e cinzenta,
ah, isso poderia!
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