Muitos usam desse momento para
encontrar o nirvana. Depois do xixizinho, descem a tampa da privada, sentam,
buscam serenar a mente. Cinco minutinhos. Um interlúdio no estresse do
trabalho. Inspirar. AUUUUMMMMMMMMM. Expirar. Inspirar. Expirar. Cinco
minutinhos, e você é outro. Duas aliviadas com meditação durante o dia bastam.
Uma de manhã. Outra, à tarde.
É no momento xixi que você tem tempo
pra pensar nas coisas que lhe são realmente valiosas. O boteco de logo mais à
noite. A lourinha do oitavo andar. O dinheiro da matéria que você enviou e que
deve estar caindo na conta. Eita, caboclo oco pós-moderno!
Mas por que vir com esse papo de xixi,
você deve estar se perguntando. Não tem coisa melhor pra falar, não? — o ímpeto
policialesco de sempre emergindo das jubas da indignação. É que até no meu
xixi, camarada, no meu sagrado direito de fazer xixi em paz, tão querendo meter
a mão.
Acabo de ler que os homens que não
tiverem pontaria ao usar os mictórios em banheiros públicos serão multados. A
multa deve girar em torno de R$ 38,00. O projeto de lei municipal não determina
a quantidade de urina fora do vaso que implicará em multa, nem como a infração
será constatada. Não, meu amigo, isso não é piada. É um projeto sério. Também
não é coisa de brasileiro, não! É coisa de chinês! A cidade que irá ser a
pioneira no quesito xixi sem pontaria é Shenzhen, no sul da China.
A ideia pode parecer engraçadinha,
piadas certamente estão circulando na rede, mas a mim, honestamente, provoca
mais calafrios que risos. E se estão inventando essa asneira por lá, não vai
demorar muito para a brilhante cabeça de um parlamentar tapuia processar a
informação e apresentar algo parecido por estas bandas.
Sinto, honestamente, que estamos próximos
da degola. Depois de proibirem o fumo em locais públicos, depois de proibirem o
sujeito de beber, agora querem policiar o meu sagrado direito de fazer um
xixizinho em paz. Não tem coisa mais importante pra se preocupar, não, ô?
Fico pensando se esse projeto é coisa
de UM parlamentar ou de UMA parlamentar. Se for coisa de mulher, tá, é
aceitável. Ela não conhece a natureza masculina. A fundo. Filhinha! Não se
trata de pontaria, não, minha querida! Pontaria nós temos. E normalmente
acertamos o alvo. Acontece que de vez em quando, ocorre um acidente; nós nos
deparamos com um probleminha operacional não identificável, que causa uma pane
no sistema. É como se tivéssemos, bem no meio das pernas, uma metralhadora
giratória de alta potência, não letal, mas de fazer Bruce Willis ir aos
píncaros do Himalaia de inveja. A culpa não é nossa. Há uma falha na operação.
É como se houvesse uns furinhos numa mangueira de esguicho. A gente tenta dar
marcha à ré, voltar ao ponto de partida, mas não dá. Não é fácil. Mas isso
acontece por acidente.
É claro que um mictório público
masculino é uma marginal Tietê na hora do rush. Acidentes acontecem. Talvez
faltem limpeza e manutenção. Mas deixa pra lá. Deixa eu trabalhar. Poxa, não
pode ser: por que agora essa de ficar olhando pra ver se não pingou fora?
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