Recentemente participei de um seminário.
Não vem à crônica, quer dizer, não vem ao caso, de que se tratava. Embora tenha
sido interessante, não vem ao caso. O importante aqui, no momento, é o coffee break.
Dou a mão à palmatória, eu sei, não precisa enfiar o dedão na cara que eu sei
que você vai fazer isso, pois outro dia até eu me rendi ao inglesismo
institucionalizado ao batizar uma crônica de Widow’s Theory, mas decididamente,
é um pé no saco se deparar a todo o momento, nesses encontros, com essas
palavrinhas chatinhas ditas por todo mundo, com sotaques e trejeitos, tais como
coffee break, workshop, checklist, gaps etc. Talvez tais expressões sirvam para
tornar o assunto mais chique.
Mas voltando ao cafezinho (que é o que
interessa), ou ao coffee break (como queiram), digo e repito que o sucesso de
qualquer seminário passa invariavelmente pela qualidade do café servido nos
intervalos. E qualquer café (e café aqui, meu querido, no sentido mais amplo
que você possa imaginar) digno e bem servido passa inapelavelmente pela
qualidade do suco de laranja. E suco de laranja de caixinha, meu amigo,
sinceramente? Não dá.
Num mundo artificial em que o silicone
artificializa o peito, a tintura artificializa o cabelo, o botox artificializa
a cara, a indústria fast food artificializa o lanche, vem um sujeito aqui se
preocupar se o suco de laranja servido no lanchinho é natural ou de caixinha?! É.
Exatamente isso. Suco de laranja. Natural. Não o culpo pelo pensamento, camarada,
talvez já estejamos nos acostumando com o artificialismo generalizado; é a
normalização do artificial. Talvez até estejamos gostando. Tudo é artificial
neste mundo, oras! Mas toda vez que me deparo com um suco de caixinha
substituindo o bom e velho suco de laranja natural, ah, não dá! Eles até tentam transformá-lo em suco com
jeito de natural, até os gomos eles conseguem fabricar e enfiar na caixinha! Mas
é só dar a primeira golada para perceber que o natural tá fazendo falta.
E vai continuar fazendo. Quero
descobrir o hotel que vai trocar a tranquila tarefa de esvaziar umas caixinhas
na jarra pelo trabalho manual e repetitivo de espremer dúzias e dúzias de
laranjas. Ainda bem que os canapés continuam os mesmos. Croquete continua sendo
croquete. Quibe continua sendo quibe. Empada continua sendo empada. Coxinha
continua sendo coxinha. Não sei até quando. Pois não é que dia desses me
serviram numa festa uma coxinha de azeitona!?
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