sábado, 8 de setembro de 2012

Anita (ato 5)


Anita desde o início sabia dos riscos que corria ao se envolver com Joaquim. Ela tentara fugir da armadilha no início, ao perceber o que estava acontecendo. Mas não deu. Deixou Joaquim ocupar um espaço muito grande em sua vida. Um erro grave.
Ela nunca teve uma família de verdade. Sua mãe a odiava. Pode parecer forte, mas é verdade. Já o pai era um canalha. Um pedófilo que a deflorou.  Até onde sei, ela não tinha nenhum parente por perto. O encantamento por Joaquim então se deu de uma forma natural e muito fácil. Se não tinha, ela encontrou simplesmente uma razão para viver.
Antes, ela só pensava em se matar. Encontrara o fundo do poço. Dava para malandros, velhos, traficantes, qualquer um disposto a pagar seu preço. Não tinha a menor esperança de ver as coisas mudarem. Estava dominada pelo vício, pela bebida, pelas drogas.
Procurou Joaquim na igreja como última esperança. Nem sabe direito que força a impulsionou naquele momento. Ouviu apenas alguém dizer na porta da Catedral que ali estava um padre diferente, um padre que se preocupava com as pessoas. Não acreditou muito, mas mesmo assim esperou um pouco e o nome dele chegou aos seus ouvidos: padre Joaquim... Da paróquia do Belém.
Não podia imaginar que aquela história fosse verdadeira (e era; realmente ele se preocupava com as pessoas) e que ele fosse procurá-la justamente em seu ponto de prostituição.
Sua visita à igreja, digamos, não foi o que ela imaginava. Ela percebeu a reação contrariada de Joaquim, como se quem batesse à porta fosse a mais odiosa das criaturas. Disse que estava atrasado. Ainda assim, após ela insistir, com indisfarçável má vontade, aceitou atendê-la em confissão.
Ficou vermelho ao ouvir seus pecados. Mandou-a rezar trinta vezes o Pai-nosso, trinta vezes a Ave-Maria. Depois a dispensou com pressa. Como poderia imaginar que sua história pudesse atingir o coração aparentemente impenetrável daquele homem?
Saiu de lá pior do que entrou. Desprezada por um padre que se dizia de Deus, mas que não demonstrava a mínima preocupação com uma de suas criaturas. Cumpriu a cartilha. Ouviu seus pecados (com pressa). Deu-lhe a absolvição, a penitência, um sorriso calculado de despedida. E um tenha um bom dia! 

(continua na próxima semana)

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