sábado, 12 de janeiro de 2013

Orquidário

Nosso grupo se preparava para a caminhada matinal. Depois, iríamos conhecer o orquidário.
Aceitei prontamente o convite do guia, o simpático Castor, muito mais pela caminhada. Certa vez, quase enlouqueci em Holambra, um Carrefour de flores. Sofri uma overdose e desde então, traumatizei. Caminhar sim, mas o orquidário eu deixo aí para os colegas.
O grupo era formado em sua maioria por pessoas idosas. Ao contrário de mim, não foi difícil perceber que eles estavam lá muito mais pelo orquidário do que pela caminhada.
Castor ainda tentou me persuadir a conhecer o tal orquidário. “Vale a pena”, ele disse. “É bastante jovem e exótico”. “Agradecido, senhor Castor”, eu respondi. “O senhor não conhece da história nem a metade”.
Era uma manhã belíssima. As montanhas esverdeadas reluziam depois de uma noite de garoa. O sol quente nos aquecia, e quando o calor parecia insuportável, encontrávamos uma sombra doce e uma água fresca.
Estávamos em Serra Negra, cercados de montanhas, de aves e de muita gente alegre e simpática, que escolheu a cidadela para esperar a chegada de 2013.
Logo vi que não poderia imprimir meu ritmo habitual. O grupo sofria para vencer as íngremes subidas que exigiam muito das pernas e do sistema cardiovascular. Não seria uma caminhada. Seria um passeio.
Mas agradabilíssimo, sem dúvida. Respirávamos o ar puro das montanhas, nossos ouvidos eram agraciados com o canto das mais variadas espécies. Eu, como ignorante absoluto em cantoria de pássaros, reconheci o inconfundível bem-te-vi. Mas foi só. De resto, apenas apurei os tímpanos e deixei entrar aquela música agradável.
À medida que andávamos fui percebendo certa insatisfação de algumas pessoas, que queriam muito mais o orquidário, e não subidas e descidas em trilhas sem fim. Não se sensibilizavam com o ar puro, com o verde reluzente, com a música que enfeitiçava nossos ouvidos.
A guiazinha ‒‒ nosso Castor tinha sumido no pó da estrada ‒‒ tentava docemente amansar os sem-paciência, mostrando as belezas do lugar.
Num certo momento, descendo uma estradinha, todos perceberam que voltávamos a um ponto pelo qual já tínhamos passado. Andando em círculos? Eu nem liguei. Queria mais era aproveitar aquela chance de estar num lugar aprazível, com cheiro, luz e sons que eu deixaria para trás dali a alguns dias.
 “Olha o que vocês estão fazendo, menininha! Tem gente idosa que se sujeitou a essa caminhada só pra ver o orquidário”, parecia a voz da vovozinha do chapeuzinho vermelho.
Próximo a um lago tranquilo, encontramos uma família de gansos reunida, confabulando alguma coisa na língua dos gansos, nem se importando com aquela turma da cidade que não descobriu ainda o que é viver de verdade. Que beleza...
Enfim, o orquidário. Estranhei o lugar, com toda sinceridade. Era uma casa inacabada no cume de um morro, com areia, pedras, tijolos. Havia uma placa na entrada ‒‒ eu não conseguia ler. Na porta da casa eu enxerguei o guia Castor, com um chapéu de palha, uma roupa de caipira que lembrava muito o Mazzaropi. Mas o que era aquilo, eu me perguntei.
A placa dizia: “bem-vindo a casa do Orquidário”.
Meu Deus, eu pensei. Não era orquidário, mas sim o jovem Orquidário. Um caipira da roça, que no muito, tinha café e água para oferecer. Mas orquídeas, jamais.
No final de nossa estada tinha um livro com críticas e sugestões. Nem quero pensar o que escreveram lá para o nosso simpático Orquidário-Castor. Que não mentiu, diga-se a verdade. Em nenhum momento ele disse que tinha orquídeas, apenas convidou as pessoas a conhecerem o Orquidário, com letra maiúscula mesmo!
Aproveitei minha passagem por Serra Negra para tocar um pouco. Meu violão já tinha teias de aranha se enrolando às cordas. Toco o que gosto de ouvir. Não sou profissional, obviamente. Arranho um pouco. E como foi bom tocar “Varandas” do Almir Sater e tocar de verdade o coração das pessoas. Um grupinho se formou à minha volta e lá ficamos cantando um pouco de boa música.
Saí de lá com a alma lavada, com a cabeça mais leve e a pança mais cheia. Acho que vou aderir ao “Contrato”, de meu amigo Henri. Preciso deixar aqui em Taubaté os quilinhos que ganhei lá. Aliás, preciso de uma purificação completa. E vou começar já. Pelas Águas de Ibirá quem sabe, arrozinho integral, uma dieta vegana seria bom...
Será? 








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