Aceitei prontamente o convite do
guia, o simpático Castor, muito mais pela caminhada. Certa vez, quase
enlouqueci em Holambra, um Carrefour de flores. Sofri uma overdose e desde
então, traumatizei. Caminhar sim, mas o orquidário eu deixo aí para os colegas.
O grupo era formado em sua maioria
por pessoas idosas. Ao contrário de mim, não foi difícil perceber que eles
estavam lá muito mais pelo orquidário do que pela caminhada.
Castor ainda tentou me persuadir a
conhecer o tal orquidário. “Vale a pena”, ele disse. “É bastante jovem e
exótico”. “Agradecido, senhor Castor”, eu respondi. “O senhor não conhece da
história nem a metade”.
Era uma manhã belíssima. As montanhas
esverdeadas reluziam depois de uma noite de garoa. O sol quente nos aquecia, e
quando o calor parecia insuportável, encontrávamos uma sombra doce e uma água
fresca.
Estávamos em Serra Negra, cercados de
montanhas, de aves e de muita gente alegre e simpática, que escolheu a cidadela
para esperar a chegada de 2013.
Logo vi que não poderia imprimir meu
ritmo habitual. O grupo sofria para vencer as íngremes subidas que exigiam
muito das pernas e do sistema cardiovascular. Não seria uma caminhada. Seria um
passeio.
Mas agradabilíssimo, sem dúvida.
Respirávamos o ar puro das montanhas, nossos ouvidos eram agraciados com o
canto das mais variadas espécies. Eu, como ignorante absoluto em cantoria de
pássaros, reconheci o inconfundível bem-te-vi. Mas foi só. De resto, apenas
apurei os tímpanos e deixei entrar aquela música agradável.
À medida que andávamos fui percebendo
certa insatisfação de algumas pessoas, que queriam muito mais o orquidário, e
não subidas e descidas em trilhas sem fim. Não se sensibilizavam com o ar puro,
com o verde reluzente, com a música que enfeitiçava nossos ouvidos.
A guiazinha ‒‒ nosso Castor tinha sumido no pó da estrada ‒‒ tentava docemente amansar os sem-paciência, mostrando
as belezas do lugar.
Num certo momento, descendo uma
estradinha, todos perceberam que voltávamos a um ponto pelo qual já tínhamos
passado. Andando em círculos? Eu nem liguei. Queria mais era aproveitar aquela
chance de estar num lugar aprazível, com cheiro, luz e sons que eu deixaria
para trás dali a alguns dias.
“Olha o que vocês estão fazendo, menininha!
Tem gente idosa que se sujeitou a essa caminhada só pra ver o orquidário”,
parecia a voz da vovozinha do chapeuzinho vermelho.
Próximo a um lago tranquilo,
encontramos uma família de gansos reunida, confabulando alguma coisa na língua
dos gansos, nem se importando com aquela turma da cidade que não descobriu
ainda o que é viver de verdade. Que beleza...
Enfim, o orquidário. Estranhei o
lugar, com toda sinceridade. Era uma casa inacabada no cume de um morro, com
areia, pedras, tijolos. Havia uma placa na entrada ‒‒ eu não conseguia ler. Na porta da casa eu enxerguei o
guia Castor, com um chapéu de palha, uma roupa de caipira que lembrava muito o
Mazzaropi. Mas o que era aquilo, eu me perguntei.
A placa dizia: “bem-vindo a casa do
Orquidário”.
Meu Deus, eu pensei. Não era
orquidário, mas sim o jovem Orquidário. Um caipira da roça, que no muito, tinha
café e água para oferecer. Mas orquídeas, jamais.
No final de nossa estada tinha um
livro com críticas e sugestões. Nem quero pensar o que escreveram lá para o
nosso simpático Orquidário-Castor. Que não mentiu, diga-se a verdade. Em nenhum
momento ele disse que tinha orquídeas, apenas convidou as pessoas a conhecerem
o Orquidário, com letra maiúscula mesmo!
Aproveitei minha passagem por Serra
Negra para tocar um pouco. Meu violão já tinha teias de aranha se enrolando às
cordas. Toco o que gosto de ouvir. Não sou profissional, obviamente. Arranho um
pouco. E como foi bom tocar “Varandas” do Almir Sater e tocar de verdade o
coração das pessoas. Um grupinho se formou à minha volta e lá ficamos cantando
um pouco de boa música.
Saí de lá com a alma lavada, com a cabeça
mais leve e a pança mais cheia. Acho que vou aderir ao “Contrato”, de meu amigo
Henri. Preciso deixar aqui em Taubaté os quilinhos que ganhei lá. Aliás,
preciso de uma purificação completa. E vou começar já. Pelas Águas de Ibirá
quem sabe, arrozinho integral, uma dieta vegana seria bom...
Será?
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