quarta-feira, 13 de junho de 2012

Crônicas de José Carlos

Meu filho desce do carro: tchau, pai! Boa aula, filho! São quase sete da manhã. Eu sigo pra casa ouvindo o jornal da Jovem Pan. Num hospital particular de Belo Horizonte, diz o locutor, uma criança está internada em estado grave porque foi medicada com ácido. Em Osasco, homem morre de AVC e a esposa acusa o médico de receitar-lhe xarope. O PT, inclusive Dilma, concordou com a CPI do Cachoeira, porque assim os holofotes deixariam o julgamento do mensalão, no Supremo. No Maranhão, os nobres deputados reduziram seus salários: recebiam 18 salários por ano, agora vão receber apenas 15. Desligo. Entro em casa e minha filha me intercepta: hoje é dia de rezar, pai. Rezar? Por quê? A votação no Supremo, pai, é hoje! A Igreja está pedindo! Temos de rezar para que a lei do aborto dos anencéfalos não seja aprovada! Sei. Virgínia antes de sair me avisa que o gás tá acabando. Deixa dinheiro pra Lúcia comprar gás. Sei. Ah!, e hoje vou demorar. Cabeleireiro. Sei. A hora que você chegar faça alguma coisa para as crianças comerem. Tem arroz e feijão na geladeira. Um frango grelhado. Salada de alface e tomate. Faça pra eles. Sei. Tchau. Honestamente, perdi o tesão pelo dia. Tenho trabalho pra cacete e nenhuma vontade de fazer. Vou para o computador escrever, quem sabe me alivia. Estou sem inspiração. Faço um resuminho negro do meu começo de dia. Olho a rua pela janela do escritório. Sol. Céu azul. Lembro de Ubatuba. Praia. Cerveja. Peixe frito. Dá vontade de largar tudo e descer a serra. Mas numa terça-feira, cheio de trabalho, não dá. Mas uma caminhadinha leve na praça Santa Teresinha dá! Uma garapa quem sabe. Não... não... Melhor trabalhar, tenho um montão de notas fiscais pra examinar, um levantamento fiscal daqueles. E caminhar no horário de expediente fica mal. Quem mandou ser fiscal? Um pensamento: quem sou eu? Ai, ai... lá vem filosofia barata. Eu sou o que quero ser de verdade ou o que a sociedade espera de mim? Ai, ai... Um insight: o que sei é que não quero ser fiscal. Quero um montão de coisas, mas não quero ser fiscal. Então peça a conta, uma voz me diz. E vou viver de brisa?, uma outra voz responde. Às vezes sinto que me falta uma dose de loucura. Loucura pra fazer o que dá na veneta. Que se dane o resto! Que se dane o mundo! Se meu apartamento tá grande, vendo e compro um pequeno. Se não gosto de dirigir, vendo o carro e começo andar a pé, ou de taxi. Se tô com vontade de ir embora, vou caramba! O que é que tem? Se o meu emprego é uma merda, peço a conta, vou buscar dinheiro no que gosto de fazer! Que se dane se amanhã eu tiver de comer arroz e feijão! Que se dane a sociedade! Que se dane me chamarem de louco!  Vou atrás do que quero pra minha vida, e se isso se chama loucura, então sou louco! Eu só tenho uma vida e ela tá passando! Acorda, José Carlos! Acorda, que ainda dá tempo! Salvo o arquivo. Desligo. Mergulho nas notas fiscais.

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Comunicado

O autor informa que suas crônicas estão sendo publicadas com exclusividade na página Crônica do Dia ( www.cronicadodia.com.br ). Convida...