quarta-feira, 27 de junho de 2012

Gil

Esse Gilberto Gil é um cara porreta! Quando ouvi pela primeira vez “Estrela” eu fiquei extasiado com aquele lirismo cada vez mais raro nas músicas de hoje. Que inspiração dos Deuses, meu Pai! Uma das canções mais belas de nosso cancioneiro popular. E “A paz” então, letra de Gil e música de João Donato? Extraordinária! Mas o cara é muito mais que um compositor iluminado. A entrevista que ele deu pra Folha nesta semana, pro Morris Kachani, mostra o que eu já sabia: Gil é de uma inteligência refinada, bem acima da média, e seu modo de ver o mundo, seu posicionamento sobre preocupações humanas universais, no mínimo, faz a gente pensar. Perguntado como se sente aos 70 anos, ele disse: “nessa idade ninguém vai mudar radicalmente o modo de ver as coisas, que é uma decantação de tudo que foi vivido. Cada vez me desvencilho mais de minha própria história. Ela passa a valer e ter sentido mais para a sociedade e menos para mim mesmo!” Se é religioso: “Sim, nesse sentido de que Deus não é um, Deus é todos. Não professo nenhuma confissão religiosa, mas rezo todos os dias. Acredito no poder da oração. Mas as instituições religiosas, e incluo todas as ordens, estão preocupadas com política e poder. Já os evangélicos cresceram enormemente como utilitarismo sistêmico produtivista, industrialista. Hoje já é uma religião para lá da religião”.  Se já usou droga: “Maconha sim, até os 50 anos de idade, quando decidi que devia me afastar do hábito. Outras drogas, como LSD e mescalina também, na década de 1970. Gostava da maconha principalmente por causa da música. Certas sinapses desencadeavam uma liberdade auditiva. Corpo e alma percebiam essa inteligência. Costumo até brincar que tanto a bossa nova como o reggae, que têm doçura e suavidade, são gêneros que foram beneficiados pela maconha [risos]”. Sobre a MPB: “Há quem diga que a MPB que se faz hoje é muito pior que antigamente. Mudou muito. Chico [Buarque] chega a dizer que teme pelo desaparecimento da canção. Porque percebe que a canção -da forma como existiu no nosso tempo, como forma de expressão quase sagrada, com aquela aura de oração religiosa, para a qual nos empenhávamos com todo entusiasmo- está deixando de existir. A canção passou a se submeter a processos de formatação de manufatura muito específicos e, de certa forma, padronizados. De todo modo, esses processos estão sujeitos a súbitas explosões de luminosidade”. A entrevista completa está na Folha de São Paulo, última segunda, 25/06.  

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