quarta-feira, 20 de junho de 2012

Manhã de domingo

Ele organiza suavemente seus apetrechos. Trabalhou a noite inteira. Suportou marmanjos, bêbados, babacas, a fumaça do cigarro, a fumaça da carne. O frio de junho que já castiga. O sereno. Até brigas, confusão, tudo isso ele aguentou pacientemente para ganhar o seu tostão. Quando o observo já pela manhã, depois de uma noite de trabalho puxado, ele está lá guardando suas coisas. Arruma tudo com refinado método. Guarda cada instrumento em seu devido lugar. É cuidadoso, organizado, limpo. Pega a vassoura e calmamente varre no entorno, como se tivesse a cabeça fresca, tão comum pela manhã quando acordamos. Olha de um lado. Do outro. Sem pressa. Eu me admiro: que paciência! Imagino que deva estar louco para ir pra casa, tomar banho, beijar sua filhinha, fazer amor com sua mulher, descansar. Mas esse desejo, ainda que aceso em sua mente, não o faz acelerar. Ele é um indivíduo sereno, suave, fino. Depois de tudo arrumado, dá uma última inspecionada. Olha pra ver se tudo está no lugar. Uma volta. Alguma coisa lhe chama a atenção. Mexe. Aperta. Tudo checado, ele olha para a igreja e faz o sinal da cruz. É um espiritualista. Agradece ao seu Deus por mais um dia de trabalho. Outro sinal da cruz. Mais uma vez. Continuo minha caminhada pensando nele. Eu o admiro. Sujeito bom esse! Irradia uma paz contagiante, que não se encontra por aí - ele já dentro do carro. Ah se todas as pessoas tivessem a serenidade, a calma desse sujeito. O mundo seria melhor. Dou uma última olhada e o vejo entrar na contramão, pegar a avenida e seguir.

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